“TREM NOTURNO PARA LISBOA”: NADA COMO UMA BOA HISTÓRIA BEM CONTADA.

Tive uma experiência das mais bem-vindas e interessantes ao assistir “Trem Noturno para Lisboa”: voltei no tempo. Me senti como se eu estivesse no antigo Cine Belas Artes, naquela época em que ele era administrado pela Gaumont, nos anos 80. E chamar o filme de “anos 80” não é nenhum demérito, muito pelo contrário. “Trem Noturno para Lisboa” tem aquele delicioso sabor de história bem contada, sem pressa, com narrativa clássica, conteúdo político, viés romântico, interpretações magnéticas e o insuperável charme europeu de décadas passadas.

O diretor dinamarquês Bille August (cuja melhor fase foi justamente nos anos 80, com “Pelle, o Conquistador”) conduz o filme com sobriedade e firmeza, desenvolvendo seus personagens com solidez, e sem se render a subterfúgios modernosos ou concessões comerciais mais explícitas.
Grande parte da força de “Trem Noturno…” se apoia em seu início arrebatador: Um homem solitário, num cinzento dia chuvoso na Suíça, salva uma jovem que estava prestes a se suicidar, à beira de uma ponte. Sem saber exatamente o que fazer com a garota suicida, ele a leva até a sala onde leciona, mas ela foge, deixando com o heroico professor apenas seu casaco vermelho e um livro de autoria de um desconhecido escritor português. Os textos (belíssimos, por sinal) que o professor lê neste pequeno livro calam tão profundamente em sua alma que, sem pestanejar, ele toma o tal trem do título do filme, apenas com a roupa do corpo, disposto a solucionar o mistério daquela quase morte.

E isto são apenas os primeiros minutos do filme.

Não bastasse a envolvente trama de mistérios, paixões e vidas desencontradas, “Trem Noturno para Lisboa” ainda faz desfilar pelos nossos olhos nomes como Jeremy Irons, Bruno Ganz, Charlotte Rampling, Lena Olin e Christopher Lee. Precisa mais? Pra mim, não.