“TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME”, A FORÇA DE UM ROTEIRO SURPREENDENTE.

Por Celso Sabadin.

“Três Anúncios para um Crime” consegue fazer o que a grande maioria dos filmes ultimamente não consegue: surpreender. Sua grande força está no roteiro, outra característica que o distingue fortemente dos demais.

Logo nos primeiros minutos já é estabelecido o conflito que permeará toda a trama: numa pequena cidade do interior norte-americano,

Mildred (Frances McDormand, de “Fargo”) compra três outdoors com mensagens que desafiam a polícia local. Motivo: sua filha adolescente foi brutalmente assassinada e o crime não foi solucionado.

Logo tracei na minha cabeça a radiografia do que viria a seguir: a boa e velha história da protagonista solitária que, munida de um inquebrantável senso de justiça, desafia os poderosos contra tudo e contra todos, e consegue uma vitória emocionante e redentora no final, perpetuando a mensagem edificante que o Bem sempre vence o Mal. Foi com uma satisfação enorme que percebi que eu estava completamente errado nesta minha previsão baseada em filmes anteriores.

“Três Anúncios para um Crime” transita na contramão dos padrões pré-estabelecidos da dramaturgia convencional e prefere arriscar. Abandona os arquétipos de heróis e vilões e desenvolve com talento personagens humanos e suas dificuldades em manter consciência e bom senso ao se depararem com situações limites. Tudo isso regado a doses maciças de um humor sarcástico que exala a crueldade cínica da própria condição humana.

“Três Anúncios para um Crime” é o terceiro longa do roteirista e diretor inglês Martin McDonagh, após o genial “Na Mira do Chefe” e o não tão genial (mais igualmente interessante) “Sete Psicopatas e um Shih Tzu”.

Autoral ao escrever sozinho os roteiros dos filmes que dirige, McDonagh segue a linha de seu conterrâneo Guy Ritchie, misturando um humor cruel e irônico a uma ágil ação policial aventuresca. Mas com uma vantagem sobre Ritchie: o poder de sua obra é bem mais fortemente embasado sobre a densidade dos diálogos e a construção sardônica dos personagens que sobre a velocidade estilizada da montagem, como geralmente faz seu conterrâneo.

“Três Anúncios para um Crime” concorre a sete prêmios Oscar, incluindo  roteiro e filme. Mas não de direção. Talvez porque a “cota para britânicos” ao prêmio tenha sido preenchida com a indicação de Chistopher Nolan.

Mas vale lembrar que o primeiro filme de McDonagh, “O Revólver de Seis Tiros”, ganhou o prêmio da Academia de melhor curta, em 2004.

“Três Anúncios para um Crime” estreia nesta quinta, 15 de fevereiro.