“TROPICÁLIA” É UM DOS MELHORES FILMES DO ANO.

É absolutamente fascinante a quantidade – e a qualidade – de documentários que focalizam a cena musical brasileira dos mais variados períodos. Cartola, Simonal, Tom Jobim, Vinícius, Herbert Vianna, Betânia, Arnaldo Batista, Festivais da Record, o Rock de Brasília, Bossa Nova, Raul, Tom Zé… “pauta é o que não falta”, como dizia aquele personagem do seriado Armação Ilimitada.

Junta-se agora a este painel cinematográfico-musical o documentário “Tropicália”, que já pode ser considerado um dos melhores, talvez até o melhor filme do ano. Não estou falando “o melhor documentário”, nem “o melhor filme brasileiro” do ano, mas sim o melhor filme do ano, no sentido amplo da expressão. Motivos para isso não faltam. O longa soube costurar com extrema maestria temas nem sempre de fácil absorção, construindo uma linha narrativa clara e brilhante, onde música, política, sociedade, modas e costumes interagem e se complementam de maneira fluida. O que não é nada fácil quando o assunto é tão multifacetado como o Tropicalismo.

Preciosas cenas de arquivo e canções inesquecíveis interpretadas sem pressa, no seu devido e bem-vindo tempo, fazem com que a precisão histórica dos fatos relatados seja acompanhada da tão necessária dose de emoção que todo e qualquer filme deve conter.

Estruturalmente, “Tropicália” traz um recurso de grande força ao dividir a narrativa em dois pedaços, um antes e outro depois do Ato Institucional número 5. Antes do infame AI-5, temos somente vozes e imagens de arquivo dos depoentes; somente depois daquele dezembro de 1968 que o filme se permite estampar na tela as imagens atuais dos entrevistados. O impacto estético é brutal.

Tudo isso faz do filme não apenas um belíssimo documentário musical, mas também um verdadeiro painel ilustrado e sonoro da história recente do país. Senti apenas a falta de entrevistas com Rita Lee e Júlio Medaglia, mas o depoimento (sempre) muito particular de Tom Zé supre as eventuais lacunas.