“TROPYKAOS” DESCONSTRÓI COM HUMOR OS CLICHÊS DO BRASIL.

por Celso Sabadin. 

“Tropykaos” chega finalmente ao circuito comercial depois de provocar algumas polêmicas pelos festivais por onde passou. O filme teria sido acusado de racismo em outros eventos onde foi exibido, principalmente dentro de sua própria terra natal, a Bahia. A trama é centralizada em Guima (Gabriel Pardal), um jovem poeta que vive uma angustiante crise de criatividade pelo simples fato de não conseguir escrever no escaldante calor que assola sua cidade, Salvador. Enquanto se lança na inglória tarefa de tentar consertar seu ar condicionado, Guima se confessa “geneticamente despreparado” para viver na Bahia. Certamente o fato do personagem ser loiro, de cabelos e pele claros, disparou algumas interpretações mais equivocadas (ou mais acaloradas, para não perder o trocadilho) que consideraram o filme racista.

Particularmente, nada no filme me fez vislumbrar nenhum tipo de preconceito racial. Levado em tom de comédia satírica (que o próprio material de divulgação do longa classifica como “realismo caótico”), “Tropykaos” não só trata com sarcasmo o verão brasileiro em geral e baiano em particular, como também satiriza as explorações comercial e cultural que se cometem no período do Carnaval. Talvez tenha sido forte demais, no entender do aborrecido pensamento politicamente correto, um filme voltar suas lentes contra estas instituições tão idolatradas como o calor e o carnaval, o que poderia ter gerado algumas reações extremadas. Bobagem. Dirigido por Daniel Lisboa, “Tropykaos” deve ser enxergado com o mesmo bom humor com o qual foi concebido.