“TRUMAN” TRAZ EMOÇÃO, DIGNIDADE, SENSIBILIDADE, HUMOR. E ATÉ DARÍN.

Por Celso Sabadin.

Quando eu trabalhava com propaganda, nos longínquos anos 70 e 80, os profissionais mais experientes da área já diziam que, para um filme publicitário fazer sucesso, bastava colocar crianças ou cachorros. Ou ambos. De lá para cá, muita coisa no mundo mudou. Menos a questão dos cachorros. Ou talvez até isso tenha mudado: acredito que naquela época ninguém poderia prever as proporções gigantescas, obsessivas e até patológicas que a cinofilia alcançaria no século próximo.

Devaneios a parte, o fato é que a belíssima produção hispano-argentina “Truman”, que fala sobre a não menos belíssima relação entre dois grandes amigos (humanos), houve por bem ser batizada com o nome de seu “protagonista” canino. “Truman”, aqui, não é o nome de nenhum dos  personagens vividos pelos atores centrais, nem do famoso presidente do Estados Unidos. Muito menos uma prequel de “Capote”. Trata-se apenas do cão de Julian, personagem de Ricardo Darín.

 

Em “Truman”, Darín acrescenta mais um sensível personagem à sua já mítica galeria de tipos inesquecíveis. Ele é Julian, um ator vitimado pelo câncer que realiza os preparativos necessários para despedir-se da vida. Ao seu lado está Tomás, amigo de longa data, que viaja do Canadá especialmente para acompanhar Julian nesta penosa jornada. Esta brevíssima e imprecisa sinopse pode dar a impressão que “Truman” seja um melodrama choroso. Longe disso. O que mais fascina neste encantador trabalho do diretor e roteirista catalão Cesc Gay (o mesmo de “O Que os Homens Falam”) é a maneira digna, altiva, e até bem-humorada que este tema tão difícil é tratado. Com sentimento, sim; com pieguice, jamais. Com lágrima, talvez; com lamentações, nunca.

Obviamente, em termos de marketing, a divulgação do filme centraliza suas forças na figura midiática de Darín. Mas vale ressaltar o magnífico trabalho do espanhol Javier Cámara (Tomás), o mesmo de “Viver É Fácil com os Olhos Fechados” e “Os Amantes Passageiros” entre vários outros.

Um dos produtores é Daniel Burman, diretor de grandes filmes argentinos como “Abraço Partido” e “Ninho Vaizo”.

Terno e profundamente humano, “Truman” já coleciona dezenas de premiações e indicações, incluindo os troféus Goya de melhor filme, direção e roteiro, entre outros.

A estreia foi em 14 de abril.