“TUDO ACONTECE EM NOVA YORK” FAZ A LINHA “INDEPENDENTE-FOFO”.

Um ponto de intersecção entre o estilo “fofo e bonitinho” do cinema romântico-independente norte-americano, com o jeito blasé-moderninho dos filmes franceses. Assim pode ser definido “Tudo Acontece em Nova York”, coprodução França/EUA dirigida a quatro mãos por Ruben Amar e Lola Bessis.

Ruben e Lola são uma dupla bem-sucedida na área dos curtas-metragens e que agora aposta nos longas. A julgar por este primeiro trabalho, existe, sim, um bom talento em potencial a ser explorado. Da mesma forma que também existe em “Tudo Acontece em Nova York” uma colcha de retalhos de clichês nem sempre bem costurados, mas perfeitamente compreensível para um longa de estreia.

Antes de mais nada, vale dizer: este “Tudo Acontece em Nova York” não tem nada a ver com o homônimo de 2010 dirigido por Josh Radnor. Aqui, o título original (“Swim Little Fish Swim”) se refere à personagem Lilas (interpretada pela própria codiretora Lola Bessis), uma jovem estudante francesa de arte que vai tentar a vida em Nova York. Desiludida com as poucas oportunidades que consegue na Big Apple, Lilas fica num dilema: ou volta para Paris, onde sua mãe dominadora e possessiva, esta sim uma artista de reconhecimento internacional, está pronta para engoli-la com o discurso “viu, eu não te disse?”, ou tenta uma última cartada com um curador novaiorquino que lhe acena com uma possibilidade de exposição.
Enquanto pensa, Lilas conhece Leeward (Dustin Guy Defa), um músico pra lá de alternativo, daqueles que foram a Woodstock a pé e estão voltando agora. Nasce entre ambos uma bela amizade unida pela dificuldade que ambos têm de se expressar pelas vias tradicionais, e pela mesma facilidade mútua que têm de se comunica artisticamente.

O filme demora um pouco a “decolar”, com alguns longos primeiros minutos que buscam explorar a sensação de tédio vivida pelos seus protagonistas. É um perigo, pois o tal tédio pode se espalhar pelo espectador, causando um desinteresse pela sua continuidade. Mas vale a pena insistir um pouco e não sair do cinema, pois lentamente a trama finalmente se encaixa e consegue algum sucesso na tão necessária obtenção de empatia público/personagens, até desembocar num final, digamos, satisfatório e bem resolvido.

Não sem antes passar pelos famosos clichês do gênero, como canções bem ritmadas cantadas por vozes pequenas e roucas ao som de violão solitário, personagem pequenininha arrastando mala diante da imponente e ameaçadora paisagem novaiorquina, piadas sobre judeus, muitas filmagens nas ruas, personagem batalhadora que precisa criar filho pequeno mesmo com a insistência do cônjuge em viver de arte, amizade com barman… praticamente toda a cartilha do cinema-americano-independente-fofo está lá.

Talvez “Tudo Acontece em Nova York” fosse melhor como curta-metragem, mas não deixa de ser simpático.