“ULTIMATUM À TERRA” E A PARANOIA ANTICOMUNISTA.

Por Celso Sabadin.
 
Cinco terráqueos são abduzidos por uma nave espacial: um russo, uma inglesa, um alemão, uma chinesa e um norte-americano. Parece começo de piada, mas trata-se do início de “Ultimatum à Terra”, ficção científica lançada em 1957, na esteira da psicose norte-americana contra os comunistas, empreendida pelo Macartismo.
 
A proposta que o alienígena (naquela época ainda não existia a expressão “E.T.”) tem a fazer aos cinco abduzidos é, no mínimo, desafiadora: ele entregará a cada um deles uma pequena arma com capacidade de destruir boa parte do mundo e os mandará de volta, no mesmo lugar e mesmo horário onde foram sugados pelo disco voador. Se, durante o prazo de 27 dias, a Terra não entrar em guerra, o alienígena abrirá mão de invadir nosso planeta. Caso contrário, seu povo tomará conta de tudo por aqui.
Trocando em miúdos, para salvar a Terra, basta que os cinco “convidados” não façam absolutamente nada com suas armas. Seria isso possível à raça humana, destrutiva e destruidora por natureza?
 
A premissa é interessante, chegando a lembrar um pouco o pedido de paz que Klaatu fizera ao nosso planeta, seis anos antes, em “O Dia em que a Terra Parou”. Porém, “Ultimatum à Terra” peca pelo desenvolvimento e – principalmente – pelo tosco e patrioticamente ingênuo desfecho. Sim, senta que lá vem spoiler.
Após algumas idas e vindas dos abduzidos (menos da chinesa, que praticamente some da ação logo no começo), quem não consegue segurar o facho são os russos, que começam a ameaçar os estadunidenses. A poderosa “América”, então, apenas para se defender (claro!) detona a sua arma, que mata sei lá quantas trocentas pessoas. Mas logo vem o comunicado oficial da imprensa: inexplicavelmente, a arma cedida pelos alienígenas só mata gente que era contra a liberdade. A democracia, o mundo livre e, claro, os EUA, estão salvos.
Como diriam os velhos locutores esportivos, “impressionante, senhoras e senhores”. Que roteiro é esse? Fruto direto de uma época paranoica que, pelo que se percebe, está longe de acabar.
 
“Ultimatum à Terra” é uma produção da Romson Pictures, empresa que produziu três longas de baixo orçamento e o seriado de sucesso na TV “As Aventuras de Wild Bill Hickok”, entre 1951 e 1958. Mesmo fraco, o filme conseguiu distribuição da poderosa Columbia Pictures.
O roteiro patriótico marcou a estreia no cinema do escritor e produtor canadense John Mantley (a partir de seu próprio livro), que mais tarde se especializaria em roteiros para TV, incluindo vários episódios de “Gunsmoke”, “Bonanza’ e outros sucessos.
 
O papel principal é de Gene Barry, que quatro anos antes já havia se envolvido com os alienígenas invasores de “A Guerra dos Mundos”. Cansado de tantos extraterrestres, foi para o Velho Oeste interpretar o famoso Bat Masterson entre 1958 e 61.
 
Direção de William Asher, mais tarde produtor e diretor do seriado “A Feiticeira” onde, pelo menos, o absurdo era cômico.