“UM BRINDE À VIDA”: HOLOCAUSTO SEM MIMIMI.

Por Celso Sabadin.

Prisioneiras de Auschwitz, sim. Sofredoras, sim. Mas sem aquela necessidade obsessiva de sapatear sobre o complexo mundial de culpa que o tema quase sempre explora. Ao se inspirar na vida da própria mãe para realizar seu filme, o diretor Jean Jacques Zilbermann optou pelo caminho do otimismo, da recuperação, da volta por cima e, como já diz o título da obra, da celebração.

Para isso, situou a maior parte da ação de seu “Um Brinde à Vida” não nos horrores do campo propriamente dito, mas nos coloridos anos 60, momento em que Helen (Julie  Depardieu, filha do famoso Gérard, e que interpreta a mãe do cineasta), Rose (Suzanne Clément) e Lili (Johanna Ter Steege) se reencontram numa praia francesa 15 anos após terem sido libertadas de Auschwitz pelos russos. O tempo passou, cada uma na medida do possível reconstruiu sua vida, mas como não podia deixar de ser, os traumas estão lá. Há tragédias, medos e lembranças terríveis para ser exorcizadas, mas também existe a  necessidade da comemoração pelo presente. E é neste sentido que “Um Brinde à Vida” se reveste de um humor agridoce, de uma comicidade dramática que mistura o riso franco à angústia sofrida. Como aliás acontece tantas vezes em diversos momentos da vida.

Visualmente, o filme estampa na tela uma nostálgica paleta de cores falseadas, uma textura imperfeita idêntica à que se conseguia obter nas artes gráficas do período em que se passa a trama. Esta atrativa sacada da fotografia aliada a uma eficiente reconstituição de época transformam “Um Brinde à Vida” numa agradável viagem no tempo, que se por um lado recorda de horrores de uma tragédia que não pode ser esquecida, por outro não deixa que o peso deste holocausto se sobreponha à alegria da sobrevivência e à esperança de momentos melhores.