“UM CASTELO NA ITÁLIA” RETRATA COM HUMOR A DECADÊNCIA DA VELHA EUROPA.

Há uma linha muito fina que separa a tragédia da comédia. Explorar estes limites, no cinema, é tarefa difícil, pois qualquer deslize pode descambar para o ridículo. Neste sentido, a atriz, roteirista e diretora Valeria Bruni Tedeschi fez um ótimo trabalho em seu “Um Castelo na Itália”: ela passeia livre, leve e solta pelo choro e pelo riso. E com um mérito a mais: sem aquela cansativa preocupação de explicar tudo e todos, muito menos de “fechar” todas as linhas narrativas que abre.

“Um Castelo na Itália” é um painel de relacionamentos disfuncionais tendo um casal de atores como personagens-pivô. A complicada Louise (Valeria Bruni Tedeschi, a própria diretora do filme) se apaixona pelo não menos complicado Nathan (Louis Garrel). Ela, quarentona, se vê obrigada a administrar a falência de sua família, a doença de seu irmão, e seu próprio relógio biológico, que implora por um filho. Ele, bem mais jovem, está em crise existencial com sua carreira de ator, e é um poço de inseguranças e incertezas. Outros coadjuvantes vão entrar na trama, cada um trazendo ainda mais complicações e disfuncionalidades a estes perturbados núcleos familiares. Sobre eles paira a sombra e as velhas histórias de um castelo italiano que precisa ser vendido (“para os chineses ou para os russos, tanto faz”, diz um dos personagens) para pagar dívidas e marcar o fim de um ciclo de nobrezas que não voltam mais. É a velha Europa em transformação.

O melhor do filme é a sua desenvoltura. Ironias, sarcasmos e situações divertidas convivem com profundas tristezas e velhos rancores, desrespeitando com leveza os desgastados limites do cinema de gênero. É possível rir e chorar numa mesma cena. A gaiatice italiana e o mau humor francês se misturam nesta coprodução franco-ítalo-britânica que chegou a concorrer à Palma de Ouro em Cannes (aí também já é exagero).

Não saia do cinema assim que surgirem os créditos finais e curta um deliciosamente nostálgico clipe de Rita Pavone cantando “Che Bambola”.