UM DESASTRE CHAMADO “PELÉ – O NASCIMENTO DE UMA LENDA”.

Por Celso Sabadin.

Todo cinéfilo sabe que o filme “baseado” ou “inspirado” em fatos carrega consigo boas doses de liberdades poéticas necessárias ao desenvolvimento da dramaturgia. Se em documentários já não se deve acreditar muito no que se vê na tela, que dirá então na ficção. O grande problema é quando um surge um filme como “Pelé – O Nascimento de uma Lenda”, que reconta uma história pra lá de contada e conhecida (pelo menos do público brasileiro), e ela é “adaptada” para o cinema por produtores estrangeiros. O resultado é um verdadeiro samba do crioulo doido. Ou samba do afrodescendente com problemas psicológicos, para ser politicamente correto.

Escrito e dirigido por Jeffrey e Michael Zimbalist, “Pelé – O Nascimento de uma Lenda” se propõe a contar a história do nosso conhecido Edson Arantes do Nascimento desde a sua infância pobre, no interior de Minas Gerais, até a final da Copa do Mundo de 1958.  O recorte até é interessante. O problema é que o roteiro toma liberdades pra lá de poéticas, tornando o filme fantasioso e fora da realidade. Ele imagina, por exemplo, uma forte rivalidade entre Pelé e Mazzola, nos bastidores da Copa de 58, pintando este último como um vilão a ser batido, o que não tem o menor fundamento. Buscando uma pífia luta de classes, o roteiro coloca a mãe de Pelé como empregada doméstica na casa de Mazzola, o que também jamais aconteceu. É constrangedora ainda a imagem de uma imensa favela utilizada pelo filme para ilustrar o que os produtores consideram como a cidade de Santos. E – para fechar com chave de lata – de acordo com o filme, Pelé só passou a ter este apelido depois do jogo final da Copa da Suécia, sendo antes disso conhecido apenas por Edson. Haja criatividade!

Além das aberrações históricas e conceituais, “Pelé – O Nascimento de uma Lenda” apresenta ainda uma estética de comercial da Nike, puramente publicitária, onde a narrativa cinematográfica passa longe e abre espaço para uma sucessão episódica de clichês cuidadosamente embalados em cores e interpretações falseadas que buscam a cada instante o endeusamento mítico do personagem.

Para piorar, o próprio Pelé assina o filme como um dos produtores executivos.

O filme estreou nos EUA em maio do ano passado e chega ao Brasil na quinta, 26/10.