“UM DIA PERFEITO”: HORROR E HUMOR EM TEMPOS DE GUERRA.

Por Celso Sabadin.

Dizem que o drama de hoje é a chanchada de amanhã. Pode ser. Mas do jeito que o mundo anda eu arriscaria dizer que cada vez mais o drama e chanchada convivem simultaneamente, alheios às questões do tempo. Há um interminável e constante sarcasmo pairando no ar que alguns conseguem perceber, e outros conseguem expressar. O diretor espanhol Fernando León de Aranoa (o mesmo de “Segunda-Feira ao Sol”), conseguiu: em seu filme mais recente, “Um Dia Perfeito”, ele logra destilar estas altas doses de ironia, presentes em tantos níveis dos relacionamentos humanos e sociais.

A partir de um caso real relatado no livro “Dejarse Llover”, da médica e escritora Paula Farias (que já foi presidente da entidade Médicos Sem Fronteiras), Aranoa conta a história de um grupo de agentes humanitários atuando na Guerra dos Balcãs que têm diante de si uma tarefa aparentemente fácil: remover um cadáver de um poço, que ali foi deixado para contaminar a água da população local. Porém, nada é tão fácil assim durante uma guerra. Um simples pedaço de corda necessário para tirar o corpo pode significar desde o hasteamento de uma bandeira que garante a vida, até a ferramenta de um enforcamento que significa a morte. Isso sem falar nas questões políticas e jogos de poder que envolvem de diferenças étnicas ao questionamento da atuação da ONU.

Entre os próprios agentes humanitários (otimamente vividos por Benicio Del Toro, Tim Robbins, Mélanie Thierry e Olga Kurylenko) brotam conflitos e afetos potencializados pelos medos e inseguranças do ambiente de guerra.

O ponto alto de “Um Dia Perfeito” é como todos estes níveis de desavenças e dificuldades se desenvolvem num turbilhão que mistura humores e tensões, ironias e tragédias, dramas e comédias, num estilo de direção que chega a lembrar o dos irmãos Coen.

Indicado a sete prêmios Goya, “Um Dia Perfeito” acabou recebendo apenas o troféu de Roteiro Adaptado nesta premiação, e estreou no Brasil em 21 de julho.