UM ESTUDO SOBRE A LOUCURA, “A ESPOSA DE TCHAIKOVSKY” CHEGA ÀS PLATAFORMAS.

Por Celso Sabadin.

A primeira cena de “A Esposa de Tchaikovsky” se passa no velório do famoso compositor. Mesmo morto, ele fica furioso com a presença de sua esposa no funeral, levanta-se do caixão, dá uma baita bronca nela, e volta ao seu leito de morte.

Está dado o recado do roteirista e diretor Kirill Serebrennikov: “A Esposa de Tchaikovsky” não é exatamente um filme sobre a esposa de Tchaikovsky. Tampouco sobre Tchaikovsky. Ao se descolar da narrativa realista, o longa busca antes de mais nada investigar a loucura da sensação de pertencimento, e a obsessão pela posse do ser supostamente amado.

A licença poética do protagonista ludibriando sua morte por alguns instantes não anula o fato do longa ser inspirado no relacionamento real entre Pyotr Tchaikovsky (vivido por Odin Lund Biron, ator nascido nos EUA e formado em artes cênicas em Moscou) e Antonina Miliukova (Alyona Mikhailova).

O filme mostra que Tchaikovsky já era um maestro de destaque no cenário russo quando passa a ser insistentemente assediado pela jovem aristocrata Antonina. Obcecada, ela lhe propõe um improvável casamento. Acomodado, ele aceita, acreditando que o arranjo poderia lhe render um bom dote, além de se constituir numa confortável cortina de fumaça para sua homossexualidade, condição totalmente intolerável naquela Rússia do século 19.

O acordo, porém, desanda, transformando a vida dele numa armadilha claustrofóbica, e a dela num inferno de rejeições. Planos fechados e sufocantes, aliados a uma fotografia de poucas luzes e uma direção de arte de tonalidades escuras, potencializam o clima gradual de insanidade que desestabiliza a protagonista.

Coproduzido por Rússia, França e Suíça, “A Esposa de Tchaikovsky” foi selecionado para a mostra competitiva de Cannes, e chega nesta sexta-feira, 26/05, à  plataforma www.reservaimovision.com.br