“UM HOMEM FIEL”, BLASÉ COMO OS FRANCESES.

Por Celso Sabadin.
Algo que sempre me chama a atenção nos filmes franceses é a capacidade de seus personagens de lidar com as situações mais desconcertantes da maneira mais casual. Pelo menos aparentemente. Talvez por isso o termo “blasé” seja tão francês. Mas é até divertido ver como eles reagem exatamente da mesma forma seja diante de uma taça de vinho derramada no vestido ou de um terremoto de 8.5 na escala Richter. Pelo menos nos filmes, claro (embora uma vez eu tenha presenciado uma discussão de quase meia hora entre um motorista de ônibus e seu passageiro na qual nenhum deles sequer levantou a voz nem por um segundo).
 
“Um Homem Fiel” segue esta linha, digamos, blasé, da turma da terra da guilhotina: o mundo desaba diante do jovem Abel (Louis Garrel, que também dirige o filme), que recebe de sua amada companheira Marianne (Laetitia Casta, esposa de Garrel na vida real) a notícia que ela está grávida… mas que o filho não é dele, mas sim de Paul, velho amigo do casal. Enquanto isso, Ève (Lily-Rose Depp, filha de Vanessa Paradis com Johnny Depp), irmã de Paul, sai em busca da realização de seu velho sonho de namorar Abel. Está formada
uma espécie de quarteto amoroso de paixões, traições e ciúmes, tudo temperado com um doce sarcasmo mórbido deliciosamente parisiense.
 
O roteiro é do veterano Jean-Claude Carrière (em colaboração com Garrel), que deixou sua marca em roteiros de filmes dos mais importantes, como “A Insustentável Leveza do Ser”, “O Fantasma da Liberdade”, “A Bela da Tarde”, “O Discreto Charme da Burguesia” e dezenas de outros.
“Um Homem Fiel” estreou mundialmente no Festival de Toronto onde recebeu a Menção Honrosa do Prêmio da crítica internacional, ganhou o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de San Sebastián e esteve na seleção oficial do Festival de Nova York. Recebeu o prêmio de Melhor Direção no BAFICI no Festival de Buenos Aires e foi indicado ao prêmio de Melhor Filme na prestigiada premiação francesa Prix Louis Delluc. A atriz Lily-Rose Depp foi indicada ao César de Atriz Revelação por seu papel no filme.
Um pouco de exagero neste quesito de premiações, é verdade, mas mesmo assim é um trabalho prazeroso de se ver.