“UM HOMEM MISTERIOSO” É UM ÓTIMO SUSPENSE POLICIAL, COM GEORGE CLOONEY.

Um diretor holandês realiza, na Itália, um filme baseado num livro de um escritor inglês. O ator principal, americano, contracena com duas belas atrizes, uma finlandesa e outra italiana. Assim é o multinacional “Um Homem Misterioso”, realizado por produtoras americanas e inglesas que estreia agora… no Brasil. E viva a globalização: o filme é ótimo!

A partir do livro de Martin Booth, o diretor Anton Corbijn conta a história de Jack (George Clooney, ótimo), um gélido e calculista assassino profissional que se esconde numa minúscula cidade italiana, à espera de seu novo trabalho. Porém, a solidão e o isolamento provocam em Jack um sentimento não apenas inesperado, como também totalmente inadequado para um assassino solitário: o amor. Ou, no mínimo, o desejo de mudar de vida.

De ritmo deliciosamente lento, “Um Homem Misterioso” é nunca menos que hipnótico. Dirigido com as mesmas precisão e habilidade que seu protagonista demonstra ao fabricar armas artesanais, o filme exibe cada cena, cada momento, cada enquadramento (recheados de generosos closes de todo o elenco) de forma a seduzir a atenção do espectador desde os primeiros minutos. É um convite à degustação cinematográfica, sem pressa, que pouco a pouco desvenda a personalidade sofrida e soltária de um homem à procura de algo maior na vida.

Com longos momentos de um bem-vindo silêncio, às vezes quebrado pela simples e eficiente trilha sonora do alemão Herbert Grönemeyer (que retorna ao cinema quase 30 anos depois de Sinfonia da Primavera), “Um Homem Misterioso” é um filme cozido em fogo baixo. Mistura drama com policial, sensualidade com suspense, e chega a dar alguns sustos típicos de Hitchcock.

As palavras são poucas, porém marcantes. Em determinado momento, o Padre Benedetto (vivido por Paolo Bonacelli, pois todo filme passado na Itália precisa ter um padre) trava com Jack o seguinte diálogo:

-Você quer publicar um guia turístico mas não se interessa por História?
-Não.
-Ah, claro, você é americano. Pensa que pode escapar da História.
-Eu só tiro fotos.

A trajetória solitária de Jack e a direção segura de Corbijn são tão magnéticas que até se releva o estranho fato do protagonista fabricar armas de altíssima precisão a partir de peças usadas de automóveis, sem sair de seu quarto de hotel. Fantasia também faz parte.

E, para os mais fanáticos, há ainda deliciosas referências cinematográficas. Repare, por exemplo, o estilo Sérgio Leone da cena em que Jack chega no pequeno vilarejo italiano e é encarado, em super closes, pelos nativos. Puro “Era uma Vez no Oeste”. Pouco mais tarde, o diretor não resiste e homenageia Leone de forma mais escancarada.

Confira.

Veja o trailer: