“UM INTRUSO NO PORÃO”, PORQUE CONHECER A VERDADE É PRECISO.

Por Celso Sabadin.

Era para ser apenas uma simples transação imobiliária: o arquiteto Simon (Jérémie Renier, de vários filmes dos irmãos Dardene) vende ao professor Fonzic (François Cluzet, de “Os Intocáveis”) um porão localizado no prédio onde mora. Um porão não habitável que seria utilizado como depósito. Porém, Fonzic se mostra uma pessoa das mais desagradáveis (não digo o motivo para não dar spoiler), o que faz Simon a querer desfazer o negócio. Tarde demais. O arquiteto quer se livrar da presença nefasta de Fonzic, mas as leis estão do lado do velho professor.

A partir daí, “Um Intruso no Porão” não desenvolverá uma história de brigas judiciais, como poderia se supor, preferindo trilhar por um caminho muito mais denso: o desmoronamento emocional de Simon provocado por uma série de conflitos do passado trazidos à tona pelas ideias e ideais de Fonzic.

Fatores ao mesmo tempo íntimos, humanos, históricos e políticos se unem para compor um trágico e cruel painel de sentimentos desencontrados de um passado que não se permite ser revivido. Ou questionado. A palavra “porão” do título assume outros significados.

O longa tem roteiro de Gilles Taurand (premiado pelo roteiro de “Rosas Selvagens”), em parceria com o jornalista e escritor Marc Weitzmann, aqui estreando em cinema, e do próprio diretor Philippe Le Guay, que também dirigiu o ótimo “As Mulheres do Sexto andar”.

Numa época em que tragédias do passado que se julgavam esquecidas retornam com grande força destruidora na sociedade atual, “Um Intruso no Porão” torna-se um filme perturbador e obrigatório.

“Um Intruso no Porão” é um dos 17 filmes inéditos no Brasil que fazem parte da programação do Festival Varilux de Cinema Francês, somente nos cinemas, de 25 de novembro até 8 de dezembro. Consulte a programação em https://variluxcinefrances.com/2021