“UM SEGREDO EM FAMÍLIA” RETOMA O INESGOTÁVEL TEMA DO NAZISMO.

Durante a Segunda Guerra, a Alemanha invadiu e ocupou a França, trazendo consequências sociais, humanas e psicológicas de proporções e desdobramentos intermináveis até os dias de hoje. Mais de 60 anos depois, os dois países se unem para produzir um filme que utiliza o tema como pano de fundo: “Um Segredo em Família”, drama indicado a 11 prêmios César em 2007 (acabou levando apenas um, o de melhor atriz coadjuvante para Julie Depardieu), e vencedor do Grande Prêmio das Américas no Festival de Montreal.

O roteiro é baseado em fatos reais relatados por Phillipe Grimbert em seu livro autobiográfico “Um Secret”. A ação não se inicia na Guerra, mas sim dez anos após o seu final, em 1955. É com o mundo já em paz, que acompanhamos a história de François, garoto de 7 anos que leva uma vida comum com seus pais Maxime (Patrick Bruel) e Tania (a bela atriz belga Cécile de France, de “Bonecas Russas” ). Tímido e franzino, o menino não se identifica com o mundo atlético de seus pais, apaixonados por esportes e atividades físicas. Como uma fuga, acaba criando para si um irmão mais velho imaginário, forte e capaz de tudo. Já na adolescência, porém, François (juntamente com o público) vai perceber que existem muitos, fortes, profundos e tristes motivos que o fazem se sentir um verdadeiro peixe fora d´água dentro de sua própria família. Motivos que remontam a uma época anterior à própria Segunda Guerra, antes do mundo conhecer os horrores do Nazismo.

O tema parece inesgotável. Famílias inteiras separadas pela perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial já foram assunto de inúmeros filmes, e com certeza ainda serão por décadas. Principalmente pelo fato da Intolerância contra o imigrante ter voltado à pauta com força total, na Europa dos dias de hoje. Contudo, o experiente diretor Claude Miller (de “Betty Fisher e Outras Histórias”) dá novo ímpeto ao velho tema, imprimindo sensibilidade e emoção a um roteiro que não se prende à ordem cronológica dos fatos. São belas imagens e tocantes interpretações que se unem a uma história de vida que, por mais dolorosa que seja, propõe o perdão. Ou, na melhor das hipóteses, o não julgamento.
São qualidades que quase – ressalte-se o “quase” – nos fazem esquecer da muleta simplista da narração em off explicativa que Miller insiste em utilizar para unir determinadas cenas.
Ludivigne Sagnier, de “Uma Garota Dividida em Dois” dá outro show de interpretação.