“UMA MULHER ALTA” E O DESESPERO DO PÓS-GUERRA.

Por Celso Sabadin.
 
Numa primeira percepção, sabe-se que “Uma Mulher Alta” é um filme ambientado logo após o fim da Segunda Guerra. Mas ao final da projeção, fica a pergunta: Em que momento, afinal, as guerras terminam? Minha resposta é “nunca”. São tão gigantescas as feridas abertas pelos grandes conflitos que cada vez mais tem-se a convicção que elas nunca cicatrizam, mas apenas assumem diferentes graus de infecção e putrefação ao longo do tempo.
 
Representante da Rússia no Oscar 2020, “Uma Mulher Alta” retrata o drama de duas amigas na Leningrado de 1945: a enfermeira Iya (Viktoria Miroshnichenko) e a soldado Masha (Vasilisa Perelygina). Ao ser enviada à frente de batalha (para cumprir tarefas que extrapolam as obrigações militares, como se saberá depois), Masha deixa seu pequeno filho aos cuidados da amiga Iya. Com o término do conflito, ambas terão de unir forças para tentar reconstruir suas vidas num mundo destruído física, política e moralmente.
 
A partir de seu próprio roteiro, em parceria com o novato Aleksandr Terekhov, o jovem (28 anos) diretor Kantemir Balagov é extremamente eficiente na criação de um clima denso e desesperador que permeia o caótico torpor do pós-Guerra. Iya e Masha perambulam pela cidade e pela vida praticamente anestesiadas pela dolorosa sensação de já não haver mais nada a ser perdido, ao mesmo tempo em que não será possível desperdiçar a benção de ter sobrevivido em meio a tantos milhões de mortos. Ou seria a maldição?
 
Enquadramentos sufocantes e uma genial fotografia de Kseniya Sereda (mais um talento jovem, de 25 anos) que colore todo o filme em tons e texturas de um úmido e triste verde (esperança?) misturado a um vermelho sangrento ajudam a fazer de “Uma Mulher Alta” um dos grandes colecionadores de prêmios do ano. Com toda justiça.