“UMA MULHER CONTRA UM PAÍS”: A ÁFRICA DE ONTEM COMO O BRASIL DE HOJE.    

Por Celso Sabadin.

Além de cruelmente racista, o regime de Apartheid que prevaleceu na África do Sul por cerca de meio século – entre os anos 1940 e 1990 – era também extremamente machista. Nem poderia ser diferente, posto que tais conceitos – racismo, machismo, truculência, ignorância, milícias, etc. – sempre caminham juntos, como estamos tendo a oportunidade de vivenciar aqui no Brasil desde as eleições de 2018.

O filme “Uma Mulher Contra um País” – que estreia nesta quinta-feira em plataforma virtual – é um fiel recorte de todo este horror. A partir do livro “The Long Journey of Poppie Nongena”, da escritora sul-africana Elsa Jourbert, o filme mostra a saga da protagonista Poppie (Clementine Mosimane), empregada doméstica negra que serve a uma família de brancos. Mesmo tendo nascida na cidade do Cabo, e estando empregada já há 20 anos, Poppie é forçada pelas autoridades a deixar o lugar, e migrar para uma região determinada aleatoriamente pelos brancos. Motivo: o marido de Poppie, Stone (Chris Gxalaba) adoentado, não pode mais trabalhar, e a lei sul-africana exige que eles saiam da cidade. Na verdade, trata-se de uma retaliação do poder local contra as regiões negras que conseguem obter autonomia.

Além de toda a tragédia humana referente a êxodos e desintegrações sociais, o filme também mostra os conflitos sócio-políticos internos da região, onde a camada mais jovem da população, indignada com os desmandos governamentais, partem para a radicalização violenta, o que causa ainda mais caos à tão sofrida África do Sul. Dividir, aterrorizar e incentivar o massivo consumo de álcool para governar é o lema implícito do governo sul africano, novamente, como acontece no Brasil de hoje.

Com roteiro de Saartjie Botha, da autora do livro, e do próprio diretor, Christiaan Olwagen, “Uma Mulher Contra um País” foi um dos filmes mais premiados em seu país, em 2019.

Disponível em www.cinemavirtual.com.br a partir de 5 de agosto.

 

03/08/2021