“UMA PROFESSORA MUITO MALUQUINHA” RECRIA NA TELA A POESIA DO LIVRO DE ZIRALDO.

Admito que tinha uma grande expectativa e também um certo receio em relação à adaptação cinematográfica do livro de Ziraldo “Uma Professora Muito Maluquinha”. Afinal, já faz alguns anos que o livro é uma das obras das cabeceiras das camas de meus filhos. Já o li dezenas de vezes para eles, e a cada nova leitura a emoção se renova: trata-se realmente de um texto mágico do mestre mineiro.

O filme conseguiria alcançar a poesia do livro original? A boa notícia é que a resposta é sim. Com o próprio Ziraldo co-assinando o roteiro (ao lado de Maria Gessy) , “Uma Professora Muito Maluqinha”, o filme, consegue, sim, passar para a tela toda a poesia, a sensibilidade, e principalmente o inconformismo do texto e das ilustrações originais do livro.

A ação é ambientada nos anos 40, no interior de Minas Gerais (as locações são em São João Del Rey). Enquanto a população local acompanha pelo rádio as notícias da 2ª Guerra Mundial, a jovem Cate (Paola de Oliveira, de “Entre Lençois”, perfeita no papel) se prepara para seu primeiro dia de aula como professora. Sua insegurança de estreante não se justifica: com sua graça, juventude e bom humor, imediatamente a professora conquista a admiração e a cumplicidade de todos os seus alunos. Porém, estas mesmas graça, juventude e bom humor – aliadas a uma contagiante vontade de viver – atrairão contra Cate toda a ira das antigas professoras da escola, adeptas da velha filosofia que o aprendizado só é possível através do sofrimento. Num dos melhores momentos do filme, a intransigente diretora da escola, ao ouvir risos e canções entre os alunos de Cate, invade a sala de aula da professora maluquinha e exige: “Vamos parar com essa felicidade aí?”. Quem seriam, afinal, os “malucos”?

O filme não é apenas uma critica ao nosso ineficaz sistema de ensino, que Ziraldo tão sabiamente faz questão de combater em suas inúmeras palestras e aparições pelo país. Mais que isso, é um hino de amor à alegria e à liberdade, à beleza da vida que tantos fazem questão de negar, ao prazer das descobertas diárias. Ainda que utopicamente, Ziraldo prega um mundo onde todos sejam merecedores de um primeiro lugar, nem que seja em cuspe à distância.

Esta forma luminosa e colorida de ver o mundo é acompanhada pela direção de arte e pela fotografia do filme, igualmente calcadas em cores fortes e vibrantes, com pouquíssimas sombras trabalhando quase sempre num registro onírico. De ritmo ágil e interpretações sempre um tantinho (para usar uma expressão bem mineira) acima do tom, “Uma Professora Maluquinha”, porém, comete o mesmo pecado da quase totalidade dos filmes brasileiros dos últimos anos: a utilização excessiva, por vezes redundante, da narração em off. O que felizmente não chega a comprometer mais seriamente o bom resultado final deste filme repleto de ternura.

Ótimo para toda a família.