“VARDA POR AGNÈS”, UM EMOTIVO INVENTÁRIO POÉTICO.

Por Celso Sabadin.

Quando o assunto é a Nouvelle Vague francesa dos anos 50, o imaginário popular sempre priorizou os nomes de Truffaut e Godard, mais midiáticos, mais icônicos, e que acabaram se tornando as grifes mais representativas do movimento. Assim, com o reducionismo típico dos nossos tempos, outros nomes importantes do cinema francês foram eclipsados

O documentário “Varda por Agnès” vem tentar corrigir (pelo menos um porquinho) tal distorção, ao registrar para quem viu ou para quem ainda não conhecia a importante carreira que a cineasta Agnès Varda desenvolveu tanto na Nouvelle Vague em particular como na cinematografia francesa em geral.

Os mais jovens tiveram a oportunidade de ver, em 2017, o belo documentário “Visages Villages” que a cineasta então quase nonagenária escreveu, dirigiu e atuou (ao lado do muralista J.R.), e que foi indicado ao Oscar na sua categoria. Muitos pensaram que “Visages Villages” seria seu último trabalho. Engano: Varda ainda concluiria este “Varda por Agnès”, seu afetivo documentário-testamento, cuja primeira exibição aconteceu no Festival de Berlim de 2018, um mês antes de sua morte.

“Varda por Agnès” é um inventário poético e descontraído de sua obra, reconstituído através de entrevistas, aulas e palestras que a cineasta ministrava para jovens plateias, e onde se mostrava sempre com invejáveis bom humor e jovialidade. Cenas históricas de seus trabalhos, sua relação com a Nouvelle Vague, sua inquietação em expandir os limites do cinema para outras artes, seu processo criativo, enfim, um registro obrigatório que agrada principalmente os fãs de cinema, mas que também abre várias abas de interesse a um público amplo interessado em arte, vida e humanismo.