“VENDE-SE ESTA MOTO”, A VIDA NOSSA DE CADA DIA.

Por Celso Sabadin.

Uma história simples de pessoas simples dirigida de forma simples. E com muita verdade. Assim pode ser definido “Vende-se Esta Moto”, um drama urbano sobre o grande drama brasileiro: a própria sobrevivência. É nesta busca insana por sobreviver em tempos conflituosos que Xéu (João Pedro Zappa) e Lidiane (Mariana Cortines) se enroscam na grande aventura da vida que é ter um filho. Novas responsabilidades unem-se a novos medos na velha saga da perpetuação da espécie. Uma luta difícil que se torna mais difícil ainda quando o campo de batalha é a comunidade carioca de Batan.

O desempregado Xéu precisa se desfazer de sua moto – representação sólida e simbólica de sua liberdade – para embarcar no caminho sem volta que é se entregar ao mercado feroz. Enquanto seu primo Cadu (Vinicius de Oliveira) procura métodos mais lisérgicos e oníricos para enfrentar a realidade.  Entre ambos, uma mulher, uma cidade, uma pequena tragédia em cada esquina.

“Vende-se esta Moto” é uma bela crônica sobre os vários Rios de Janeiros que coexistem – pacificamente ou não – dentro do Rio de Janeiro. Um filme que elege a poesia como seu fio condutor, utilizando para isso a voz, as atitudes e até a violência de um icônico personagem, vivido por Sílvio Guindane, que remete ao coro do teatro grego. Um coro de uma pessoa só que age aqui como catalisador de uma sociedade em constante ebulição.

O diretor Marcos Faustini, nome mais associado ao teatro, faz em “Vende-se Esta Moto” aqui uma competente transição dos palcos para a tela de cinema.