“VENEZA”, SEMPRE UM TOM A MAIS.

Por Celso Sabadin.

A dona de prostíbulo Gringa (a espanhola Carmen Maura, de vários filmes de Almodóvar) está cada vez mais obcecada com seu sonho de viajar à Veneza e reencontrar uma antiga paixão. Cega e não exatamente lúcida, ela perturba cada vez mais as demais prostitutas de sua casa para que a viagem seja realizada. A situação se torna insustentável, e algo de concreto terá de ser feito.
A partir da peça teatral que o argentino Jorge Accame estreou em 1998, Miguel Falabella roteiriza e dirige “Veneza”, que chega aos cinemas brasileiros em 17 de junho, após participar do circuito de festivais.

Fiel às suas raízes televisivas, Falabella conduz seu longa – digamos – sempre “um tom acima”. A trilha musical raramente para de tocar, a câmera raramente para de se movimentar, a fotografia explode em cores, a direção de arte busca o exuberante, os diálogos parecem sempre uma oitava mais altos. Defeito? Não exatamente: prefiro considerar como um estilo. Um estilo meio “over”, quase barroco, muito comum na TV, e que vimos recentemente também em “O Grande Circo Místico”, de Cacá Diegues. Uma estética compreensível para quem busca o grande público – mais sintonizado com as telenovelas e seriados globais – mas que particularmente mais me desagrada que agrada. A provável justificativa que parte da trama se passa em um circo não me pareceria satisfatória.

Outra marca televisiva pouco cinematográfica em “Veneza” é a redundância verbal do que já está visualizado. Por exemplo. Durante uma elegante festa em um prostíbulo, a dona do lugar pede um minuto de atenção. Todos param de dançar e olham para ela, que interrompe a música, faz um breve discurso e abre espaço para o que estava previamente combinado: um rapaz, agora no centro total das atenções, se ajoelha solenemente diante de uma das prostitutas, tira do bolso um anel, e a pede em casamento. Uma cena com bom potencial dramático e cinematográfico, certo? O problema é que a cena continua. Depois que todo mundo já viu que se tratava de um pedido de casamento, a mulher prossegue: “Escutaram? Ele a pediu em casamento!”.
Se a cena tivesse mais 15 segundos talvez ela a desenhasse.

De qualquer maneira, de narrativa direta e produção caprichada, “Veneza” tem boas possibilidades de encontrar seu público, potencial este aumentado através de um elenco bastante popular que inclui com Dira Paes, Eduardo Moscovis, Carol Castro, André Mattos, Caio Manhente e Danielle Winits, entre outros.

“Veneza” foi premiado com os Kikitos de melhor direção de arte (Tulé Peake) e melhor atriz coadjuvante (Carol Castro) no Festival de Gramado e recebeu quatro troféus no Los Angeles Brazilian Film Festival – direção de fotografia (Gustavo Hadba), ator (Eduardo Moscovis), ator coadjuvante (André Mattos) e atriz coadjuvante (Carol Castro), além de roteiro (Miguel Falabella) no Brazilian Film Festival of Miami.