“VERMELHO MONET”: DECLARAÇÃO DE AMOR A TODAS AS ARTES.

Por Celso Sabadin.

 

Na pré-estreia paulista de “Vermelho Monet”, ocorrida nesta terça, 7 de maio, o diretor Halder Gomes “avisou” o público, antes da projeção do filme: “Vocês estão sabendo que é um drama, né? Tudo bem? Ainda dá tempo de sair…”.

 

A “advertência” pode parecer estranha para quem não está familiarizado com a obra de Halder, mas seus velhos conhecidos logo perceberam a brincadeira: para quem não sabe, Halder Gomes é um dos melhores e mais bem-sucedidos diretores de filmes e seriados cômicos da história recente do audiovisual brasileiro (leia seu currículo no final do texto). E “Vermelho Monet” é a sua primeira incursão no drama.

 

O próprio cineasta explica que o universo das artes plásticas é uma de suas primeiras e mais intensas paixões, e que ele pretende – sem abandonar a comédia – continuar escrevendo e dirigindo filmes sobre o tema.

 

Assim, a primeira pergunta que provavelmente vem à cabeça do público parece ser: conseguiria um diretor de comédias fazer um bom trabalho em um drama intenso ambientado nos bastidores das galerias e leilões de arte? Após ver “Vermelho Monet”, minha resposta é sim. Definitivamente, sim!

 

Sem me fixar muito à sinopse (isso você vai ver no filme), “Vermelho Monet” coloca em rota de paixões e colisões três personagens multifacetados e muito bem construídos: o pintor talentoso e decadente Johannes (Chico Diaz), a jovem e ambiciosa atriz Florence (Lizz (Samantha Müller) e a influente e experiente marchand Antoinette (Maria Fernanda Cândido). Todos habitando e/ou transitando por belas locações na Europa, principalmente em Lisboa (a produção é luso-brasileira).

 

A partir deste triângulo protagonista básico – que será acrescido de importantes e interessantes coadjuvantes – “Vermelho Monet” levanta várias camadas de discussões. Entre elas, a mercantilização predatória do mercado artístico, os limites da ética na procura do sucesso, o exorcismo e a catarse dos medos e angústias através da expressão artística, a infinitude das paixões, a falsificação da própria existência ou, como adianta a publicidade do filme, o valor de um amor original. Não é pouca coisa.

 

“Vermelho Monet” é um filme corajoso. O roteirista – que é o próprio diretor – felizmente rasgou os manuais de roteiros pré-fabricados que costumam fazer sucesso no raso cinemão comercial, e partiu para narrativas que ele próprio adjetiva como barrocas.

Há uma grandiosidade operística que se expressa através de uma intensa diversidade tanto estilística (do impressionismo ao noir) como musical (de Satie a Donna Summer). Tudo sob a inquieta batuta de Halder, que conduz sua sinfonia artístico-visual-sonora-pictórica com uma paixão que rende, ao mesmo tempo, momentos que remetem ao cinema da fase madura de Almodóvar, e instantes de verbalização transbordante que testam os limites de plateias sintonizadas com a atual fragmentação da comunicação.

 

Não por acaso, o filme é dividido não em capítulos, mas em movimentos sinfônicos, dispositivo mais que coerente para uma obra que homenageia – num só tempo – as artes plásticas, as cênicas, as audiovisuais e as musicais.

 

Vencedor dos prêmios de Melhor Filme Ficção, Melhor Direção e Melhor Ator (Chico Diaz) no FESTin – Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa, “Vermelho Monet” estreia nesta quinta, 9 de maio, em cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Salvador, Curitiba, Maceió, Aracaju, Recife, Florianópolis, Natal, Niterói, Ribeirão Preto, Caxias do Sul, Brasília, Manaus e Sobral.

 

Quem é o Diretor

 

Halder Gomes é cineasta, produtor, diretor, roteirista, ator, artista plástico, mestre em taekwondo, formado em administração de empresas e um apaixonado pelo estado do Ceará, onde nasceu em 1967, e pelo time do Fortaleza, clube do coração. Apesar de ter nascido na capital, foi no sertão central cearense, mais precisamente na cidade de Senador Pompeu, onde viveu sua infância, que Halder tira muito de sua inspiração para mostrar o melhor do “cearensês” para o mundo. Iniciou sua carreira no cinema como dublê de lutas, no início dos anos 1990, em Los Angeles (EUA). Pouco depois passou a fazer roteiros para produções e logo começou a dirigir filmes. O sucesso do curta “O Astista contra o Caba do Mal” (2004) o credenciou para iniciar a carreira como diretor de longas. O curta deu origem a “Cine Holliúdy”, seu 4º longa-metragem como diretor e o primeiro grande sucesso nas bilheterias e que o levou para uma sólida e crescente carreira marcada pela pluralidade do repertório criativo.