“VIC+FLO VIRAM UM URSO”, UM FILME CRUEL SOBRE AFETO E VINGANÇA.

Intrigante, tenso e, por que não, por vezes acidamente divertido. Assim é “Vic + Flo Viram um Urso”, filme que a partir do próprio título já deixa clara sua intenção de causar estranhamentos.

Vic e Flo do título são duas ex-presidiárias que moram isoladas numa cabana dentro de uma floresta canadense. Embrutecidas pela vida, cada uma tem seus próprios motivos para fugir do passado e buscar o isolamento. Porém, muda-se a geografia, mas não se muda a história: erros cometidos no passado podem até ser perdoados pela Justiça. Mas o ser humano, além de não ser justo, é cruel. E a suposta segurança do imaginário isolamento da cabana logo se mostra frágil, abrindo espaço para o desfile de tipos tão ou mais bizarros quanto as próprias protagonistas do filme.

O canadense Denis Cotê, roteirista e diretor de “Vic + Flo Viram um Urso”, não é dos mais conhecidos no Brasil, mas tem obtido um bom destaque em festivais internacionais, como Berlim, Locarno e Toronto. Ex-crítico de cinema, Cotê busca uma estilização que pretende sacudir o espectador de sua zona de conforto. Cria com eficiência climas de medo e tensão, ao mesmo tempo em que constrói personagens de grande essência afetiva individual escondida sob uma carapaça de embrutecimento social. Amor e vingança convivem em improvável harmonia.

Um dos grandes destaques do filme fica por conta da incômoda e retumbante percussão de sua trilha sonora, assinada pela estreante Melissa Lavergne. “Vic + Flo Viram um Urso” foi selecionado para a mostra competitiva do Festival de Berlim.