“VICTORIA” É A SUPERVALORIZAÇÃO DO ADEREÇO.

por Celso  Sabadin.

Desde o momento em que a atividade cinematográfica se assumiu abertamente como indústria, e os filmes foram transformados em “produtos”, os executivos de cinema passaram a se antenar muito mais em conceitos de marketing e vendas. Como todo produto comercial, os filmes passaram também a buscar atentamente o que mercadologicamente se chama “diferencial”, ou seja, aquilo que será utilizado como chamariz na campanha de divulgação, uma novidade atrativa. O conceito é mais difícil do que soa, pois um bom produto, para ir à prateleira, precisa ter um diferencial para se sobrepor à concorrência, mas não pode ser muito “diferente” do que o mercado já se acostumou a consumir, para não afugentar o comprador médio. É preciso buscar um equilíbrio.

Neste sentido, “Victoria” acertou em cheio: criou o diferencial publicitário dos “134 minutos em plano único”, bateu o recorde anterior (“A Arca Russa”, com 99 minutos), e arrancou aplausos (e até vários prêmios internacionais) da mídia e dos consumidores (só esclarecendo que o plano sequência de “Birdman” é falso, criado em computador, diferente de “Victoria”, que é real). Em outras palavras, “Victoria” conseguiu o que todo lançamento de produto necessita muito neste mercado extremamente competitivo: visibilidade na mídia.

E realmente o filme deve ter dado um trabalhão! Sem cortar uma única vez, a câmera acompanha durante 134 minutos a trajetória de Victoria (Laia Costa), uma jovem espanhola que conhece quatro rapazes alemães com quem embarca numa noite alucinante em Berlim. E é melhor não falar mais nada para que o espectador embarque melhor na viagem.

Após muitos ensaios, mas também com muita improvisação, a câmera foi ligada um pouco depois da 4:30 da manhã de 27 de abril de 2014, e desligada duas horas e quatorze minutos depois. Envolvendo 22 locações, mais de 150 figurantes, seis assistentes de direção, três equipes de som e sete atores.

Passado o primeiro impacto de espetacularização, porém, “Victoria” não resiste muito. De conteúdo ralo, o filme funciona quase como uma montanha russa, que proporciona um breve, intenso e rápido choque, até diverte, mas não diz muito a que veio. Muito instantaneamente, perde-se na falta de alguma profundidade, no vazio de quem parece não ter praticamente nada a dizer. Não resiste sequer a uma análise minimamente atenta das motivações de seus personagens, e até de uma falsa facilidade com a qual eles lidam com as improváveis situações. Ou seja, é um filme perfeitamente sintonizado com o nosso tempo de emoções rápidas e rasteiras, superficialidade e carência de conteúdo.

Um interessante exercício de estilo do diretor alemão Sebastian Schipper. Não muito mais que isso.