“VIRANDO BICHO” INVESTIGA O UNIVERSO DO VESTIBULANDO.

Muitos já passaram por isso: existe um ano na vida de muita gente que parece que o mundo vai desabar. Um ano onde os desesperos se exacerbam, onde tudo assume proporções monumentalmente trágicas, as sensibilidades ficam à flor da pele, a adrenalina explode. É o ano do vestibular. Depois a gente percebe que é tudo bobagem, mas pelo menos durante o período de 12 meses o vestibulando acredita que todos os planetas da galáxia e os destinos da Humanidade giram em torno de um exame.

É este ano de emoções explosivas o tema do documentário “Virando Bicho”, de Alexandre Carvalho e Silvia Frahia. Os cineastas perscrutaram o universo do vestibulando entrevistando professores, ex-professores, alguns especialistas, e principalmente seis jovens candidatos ao Ensino Superior que são acompanhados pela equipe de filmagem durante um ano. Meia dúzia de jovens ansiosos que amostralmente representam um pouco do Brasil, incluindo periferia, classe média alta, interior paulista, subúrbio carioca, estudantes de escolas públicas e privadas.

Com bom ritmo, linguagem jovem (bastante adequada ao tema), e eficiente utilização da trilha sonora, “Virando Bicho” é bem sucedido na difícil tarefa de, em tempo curto (uma hora e quinze minutos), criar no público a necessária empatia com os seus seis personagens. Uma empatia que será fundamental para os seus ótimos últimos momentos, quando será enfim revelado quem passou ou não passou no tão temido vestibular. É impossível não se emocionar.

Tangencialmente, “Virando Bicho” discute problemas recorrentes do país, como o baixo salário dos professores, o desinteresse dos alunos, o sistema de cotas. E opta por deixar os pais dos alunos como coadjuvantes.
Incomoda apenas o excesso de merchandising do cursinho que patrocina o projeto (de onde sai inclusive a grande maioria dos professores entrevistados), mas nada que chegue a prejudicar o bom andamento do filme.

Vale também como uma simpática lembrança nostálgica para quem já passou por tudo isso. E sobreviveu.