Vozes Inocentes

Historicamente, o melodrama e o exagero são dois traços bem marcantes da cultura mexicana. Filmes anteriores do diretor mexicano Luis Mandoki reforçam esse fato: Gaby – Uma História Verdadeira, Quando um Homem Ama uma Mulher e Uma Carta de Amor são podem ser considerados exatamente como exemplos de sutileza. Sem entrar em juízo de valor, até a expressão “melodrama mexicano” é mundialmente conhecida e reconhecida. O novo filme de Mandoki – Vozes Inocentes – não renega as raízes culturais de seu diretor.
Vozes Inocentes é baseado na história real de Oscar Torres, salvadorenho que fugiu de seu país ainda garoto, estabeleceu-se nos EUA, conseguiu se tornar ator em alguns filmes menores, e agora traz a público este roteiro dirigido e produzido por Mandoki. O filme se concentra apenas num breve período da vida de Torres – entre seus 11 e 14 anos – mostrando a terrível realidade da favela onde vivia com sua mãe e dois irmãos, em El Salvador. Em plena guerra civil, seu humilde barraco estava constantemente na linha de fogo entre governo e rebeldes. Balas chispando por sua cabeça e corpos amontoados pelas vielas formavam a realidade cotidiana do pequeno Oscar (no filme, Chava, interpretado pelo garoto Carlos Padilla).
O grande problema do filme, porém, é justamente a mão pesada de Mandoki. É a sua tendência para o melodrama mexicano. Realizar uma cena com uma mãe e seus filhos escondidos debaixo da cama, enquanto balas perfuram o barraco e zunem por suas cabeças, por si só já é algo difícil de fazer, sem escorregar no sentimentalismo. Agora, repetir a situação, mais uma, e mais outra vez dentro do mesmo filme… aí já é abusar um pouco. E que tal um abraço entre mãe e filho em câmera lenta, após um tiroteio?
Garotos sofridos por garotos sofridos, sou muito mais o pequeno Machuca, do filme de mesmo nome. Vozes Inocentes tem uma boa história para contar, mas se perde pelas armadilhas sentimentais armadas pelo seu próprio diretor. Uma curiosidade: a trilha sonora é do brasileiro André Abujamra, de quem Mandoki também não extrai o seu melhor.