“WALACHAI”, UM MUNDO PERDIDO AQUI BEM PERTINHO.

Prepare-se para conhecer um mundo totalmente diferente. Um mundo onde se fala um idioma próprio que ninguém fora de lá compreende. Um mundo quase sem televisão, onde celulares mal pegam, onde não se fala de internet, e onde não dá para assinar jornal “porque ninguém viria entregar aqui”, conforme diz um dos habitantes do lugar.

Prepare-se para conhecer Walachai (pronuncia-se Valahai). Ficção científica estrelada por Tom Cruise? Não. “Walachai” é um documentário brasileiro sobre “um pedaço do Brasil ainda desconhecido pelos próprios brasileiros”, conforme define a roteirista e diretora Rejane Zilles. Trata-se de um paraíso perdido no interior do Rio Grande do Sul (mais próximo do que se imagina, mas deixemos isso para o surpreendente letreiro final do filme) onde o tempo parece ter estacionado na Idade Média.

São pequenos produtores que praticam agricultura de subsistência, crianças que só aprendem a falar português quando chegam na idade escolar, artesãos que fabricam suas próprias ferramentas, jovens que só encontram seus pares em festas de colheita ou missas dominicais. E tudo isso por opção, sem nenhuma obsessão de fundo religioso que reza que assim deva ser para se encontrar a salvação. É o mundo em seu estado mais puro; e todos parecem felizes com isso, pelo menos diante da câmera.
Do agricultor orgulhoso pela equipe estar filmando seu velho e brilhante fusquinha azul, ao historiador amador que escreve há anos a história da cidade num inacreditável livro feito a mão, “Walachai” brinda o público com figuras inacreditáveis, de tão reais.

A diretora Zilles trata do assunto com o conhecimento de quem nasceu no lugar, é filha de um fabricante de carroças, e de lá só saiu aos 9 anos de idade. Certamente por isso conseguiu imprimir ao seu filme o bem-vindo ritmo lento e contemplativo que o tema exige, ao mesmo tempo em que extraiu belíssimas imagens e depoimentos que passam uma veracidade tão límpida e cristalina quanto o céu azul da região.

Após ter estreado no ano passado em Porto Alegre, o filme ganha agora um circuito merecidamente mais amplo, nacional, provando que o documentário brasileiro tem se mostrado cada vez mais apurado e criativo não só em seus temas, como também em suas abordagens e execuções.