WOODY ALLEN MANTÉM SUA BOA FORMA EM “O FESTIVAL DO AMOR”.

Por Celso Sabadin.

Aos 86 anos (completados mês passado), Woody Allen continua exalando frescor e criatividade. Seu novo longa – “O Festival do Amor” – é a prova mais recente disso. Fiel ao estilo irônico-verbal que o consagrou, mantendo-se sabiamente na zona de conforto daquilo que sabe fazer de melhor, e destilando sua usual jocosidade contra a indústria do cinema dominante, Allen ambienta seu novo filme totalmente nos bastidores de um importante festival de cinema. Mais precisamente no de San Sebastian, na Espanha, um dos mais charmosos do mundo.

Desta vez, seu alter ego é Mort Rifkin (Wallace Shawn, careteiro, o único demérito do filme), um crítico de cinema à moda antiga que vai à San Sebastian acompanhando a esposa, Sue (Gina Gerson), que trabalha como assessora de imprensa de Phillipe (Louis Garrell), o famoso “jovem diretor do momento”, incensado pela mídia.

Está armado o cenário para o habitual e divertido show de medos e inseguranças do protagonista, que reflete com precisão o habitual e divertido show de medos e inseguranças do autor da obra.

Alicerçado nos grandes clássicos cinematográficos de sua época, Rifkin não consegue se conformar com a superficialidade e a ingenuidade quase tratante de Phillipe que, entre outras lorotas midiáticas, promete que seu próximo filme conseguirá concretizar a paz entre árabes e judeus. Pior até que as falácias delirantes do jovem cineasta é a forma como a imprensa o acolhe e o repercute, num misto indigesto de infantilidade cega com encantamento inconsequente.

Obviamente, em meio a este abismo cultural e geracional, o casamento de Rifkin e Sue balança forte.

Mais até do que degustar das corrosivas críticas de Allen à indústria cinematográfica contemporânea, o cinéfilo vai se deliciar com os delírios do protagonista, que mistura sua própria vivência a cenas icônicas de filmes importantes.

Coproduzido por Espanha, Itália e EUA, “O Festival do Amor” traz também participações de Christoph Waltz, Michael Garvey,  Elena Anaya e Sergi López, entre outros. A estreia no Brasil é nesta quinta, 06 de janeiro, em cinemas.