XADREZ SOVIÉTICO E TEATRO BRASILEIRO SÃO DESTAQUES NO É TUDO VERDADE 2021.

Por Celso Sabadin.

Prossegue até o próximo dia 18 esta infinita viagem virtual anual que nos possibilita o contato com as mais diversas realidades vindas dos quatro cantos desta Terra não plana chamada Festival É Tudo Verdade.
Da mesma forma que nunca foi tão compulsório abrir as asas da imaginação e percorrer outros mundos – mesmo que remotamente – também nunca foi tão acessível participar desta viagem. O Festival está ´cada vez mais acessível através dos mecanismos virtuais que dominaram o planeta nos últimos meses de uma forma que nem George Orwell conseguiria prever.

Para estes primeiros dias de evento, seguem duas recomendações: uma vinda do leste europeu, outra eminentemente brasileira.

Coproduzido pela Geórgia, Sérvia e Áustria, “Glória à Rainha”: aborda quatro personalidades de fama mundial das quais certamente você – nem eu – nunca tinha ouvido falar: Nona Gaprindashvili, Nana Alexandria, Maia Chiburdanidze e Nana Ioseliani. Nomes completamente desconhecidos aqui no ex-país do futebol, estas mulheres são heroínas na Terra do Xadrez: a antiga União Soviética.
Juntas, as quatro são responsáveis por dezenas de títulos mundiais de xadrez. E curiosamente todas nasceram na Geórgia, uma das repúblicas que retomou sua independência, após a dissolução da URSS. Com direção de Tatia Skhirtladze, “Glória à Rainha” mostra com afeto a trajetória destas quatro vencedoras e de como suas imagens foram utilizadas, em suas épocas, para finalidades político-publicitárias.
Um importante registro histórico recheado de raras imagens de arquivos soviéticos, e que ainda tem o mérito de homenagear suas campeãs em vida.

Do Brasil o destaque é “Máquina do Desejo – Os 60 Anos do Teatro Oficina”, registro histórico da trajetória de um dos mais importantes movimentos teatrais do país.
Com direção de Lucas Weglinski e Joaquim Castro o longa desmente – pelo menos em relação ao Oficina – a velha máxima de que o Brasil é um país sem memória cultural. Supreendentemente, a quantidade e a qualidade das imagens de arquivo são impressionantes e abundantes. O longa tem quase duas horas de duração, e durante praticamente todo o seu tempo o espectador é brindado com imagens (em movimento!) das grandes peças ali encenadas desde 1958 e de suas épicas lutas políticas.
“Máquina do Desejo – Os 60 Anos do Teatro Oficina” revisita uma história que envolve personalidades como Caetano Veloso, Glauber Rocha, Lina Bo Bardi, Chico Buarque e Zé do Caixão, aproxima arte cênica, ecologia, arquitetura e sexualidade, e mistura arte e vida na busca de uma linguagem verdadeiramente brasileira sempre marcada pela resistência à imbecilidade política que invariavelmente tenta – mas não consegue – destruir nossa liberdade de expressão.
Tudo, como não poda deixar de ser, sob a batuta do incansável José Celso Martinez Correia, nome que se confunde ao próprio Oficina. Imperdível para conhecer melhor o Brasil.

A programação completa do É Tudo Verdade está em http://etudoverdade.com.br/br/programacao/