“XINGU” SE RENDE À ESTÉTICA INTERNACIONAL DA AVENTURA.
Assumidamente baseado “livremente” em fatos reais, como diz seu letreiro de abertura, “Xingu” romantiza a trajetória dos irmãos Cláudio e Orlando Villas-Boas, e a luta deles pela demarcação das terras indígenas e pela criação do Parque Nacional do Xingu, que por sinal completou 50 anos em 2011. Mas não se trata apenas de uma cinebiografia, mesmo porque o tema é dos mais fascinantes e, ainda, atuais.
Ao revisitar a atuação pioneira dos Villas-Boas na cultura indígena, o roteiro levanta importantes questões crônicas da nossa história. Entre elas, o olhar e o agir colonizador que nunca deixaram de permear a atuação do poder público (e econômico) sobre os primeiros habitantes do Brasil. O próprio progresso – ou aquilo que chamamos de progresso, com sua feroz atuação predadora – é frontalmente questionado: é isso que queremos? A que custo? É impossível não lembrar de Belo Monte.
Como tudo o que a O2 produz, “Xingu” também é impecável do ponto de vista técnico. Apresenta fotografia, trilha sonora, direção de atores e apuro de produção invejáveis, embora peque no estilo de narrativa adotado. Percebe-se no filme uma intenção de conquistar o mercado internacional utilizando-se para isso das ferramentas deste mesmo mercado. Ou, em outras palavras, segue uma estética de filme de aventura, com cortes rápidos, uma visível pressa no desencadear das ideias, e pouco espaço para reflexão e/ou contemplação. Por vezes, abusa de um certo didatismo, com letreiros explicativos de épocas e lugares, utilização de manchetes de jornais para contextualizar a ação e – como tem acontecido na grande maioria dos filmes brasileiros – também lança mão da muleta da narração em off. Ainda que com certa parcimônia.
Propositalmente ou não, “Xingu” não tem o ritmo da Amazônia e deixa transparecer – para o Bem e para o Mal – que é produzido e dirigido por frenéticos paulistas. E não vai aí nenhum tipo de preconceito, mas apenas uma constatação estilística. Mesmo porque eu também sou paulista.

