“YARA”, A SOLIDÃO DO IMOBILISMO.

Por Celso Sabadin.

A garota que dá título ao filme (interpretada pela estreante Michelle Wehbe) vive com a avó em uma chácara nas montanhas do Líbano. O lugar é deslumbrante, mas o preço a pagar pelo delicioso silêncio e pela beleza da paisagem talvez seja muito caro para uma adolescente: o isolamento. A solidão só é quebrada eventualmente por um mercador, um guia turístico, ou por alguém que acabe se perdendo por ali. E um destes “perdidos” é Elias (Elias Freifer, que além de atuar também é o assistente de som e de câmera do filme), que se encanta pela moça. E ela por ele.

“Yara” é um pequeno e singelo trabalho sobre enraizamento, tradições e as dificuldades em quebrá-las. Uma leitura apressada poderia classificá-lo como “um filme onde não acontece nada”, mas há muito para ser descoberto dentro deste suposto “nada”. Antigas fotos na parede sinalizam o imobilismo de uma continuidade centenária que não consegue espaço nos novos tempos. Casa, igreja e escola vazios e sem vida, mas quase intactos, sublinham a tristeza do abandono. É um lugar onde “as pessoas morrem ou vão embora”, emociona-se a protagonista que internaliza o conflito estabelecido entre o seu espaço e o tempo de seu próprio desabrochar de mulher. Yara é vítima de sua história, de sua geografia, e de si mesma.  Ao brincar com Elias, “desafiando-o” a cruzar uma linha que traça no chão, ela mesma acaba criando uma armadilha imaginária para si. Nada mais simbólico.

Da primeira à última cena, durante praticamente todo o desenrolar do filme, ouve-se ao fundo o latido desesperado de Lassie, a cachorra de Yara, sempre inexplicavelmente presa a uma coleira, mesmo tendo diante de si milhares de metros de liberdade. Por que ninguém solta Lassie?  Por que ninguém solta Yara? Talvez, diferente da cadelinha, Yara nem perceba que também está de coleira.

A lamentar apenas o incômodo vício da direção em finalizar vários planos com uma inexplicável panorâmica de baixo para cima.

Coproduzido por Líbano, Iraque e França, “Yara” é um trabalho bastante autoral  do premiado iraquiano Abbas Fahdel, que além da direção assina também o roteiro, a fotografia, a produção, a montagem e o som.

 

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