“YOMEDDINE”, COM SABOR DE UM “CENTRAL DO BRASIL” EGÍPCIO.

Por Celso Sabadin.

O mundo inteiro já captou os elementos básicos que fazem um filme ser sucesso ou de público, ou de festivais, ou de premiações. Rolam até “tutoriais” cômicos na internet dando dicas de como construir um filme vencedor. O Egito não ficou fora dessa. Coproduzido com Estados Unidos e Áustria (incrível como os países colonialistas não permitem que os países colonizados lancem seus filmes sem a tutoria metropolitana!), os egípcios realizaram o belo “Yomeddine”, longa com todos os trejeitos de produção premiada.

O formato é o clássico road-movie protagonizado por outsiders. Ou, pelo menos, um river movie, já que os personagens tentarão margear o Nilo para chegar ao seu destino. Portador de Hanseníase, Beshay (Rady Gamal, sem experiência em atuação, e realmente portador da doença) decide abandonar a colônia para leprosos onde vive desde criança para descobrir suas raízes. Ao lado de seu burro e do jovem amigo órfão Obama (Ahmed Abdelhafiz, também estreante), Beshay empreenderá pelo país a clássica viagem à procura da identidade encoberta pelo tempo e pelo preconceito contra a doença.

Um excluído social, uma criança e um animal perambulando pela poeira histórica dos desertos egípcios só poderia dar no que deu: “Yomeddine” concorreu à Palma de Ouro em Cannes, circulou muito bem em festivais internacionais, e foi o escolhido para representar o Egito no Oscar. A fórmula é praticamente infalível. Paisagens áridas, protagonistas cativantes, busca pelas raízes, coadjuvantes dos mais interessantes cruzando pelos caminhos, arco dramático redentor… impossível não comparar a jornada de Beshay e Obama à de Dora e Josué em “Central do Brasil”.

Sem cair no píegas que o tema poderia facilmente proporcionar, e utilizando até alguns bons momentos de humor, “Yomeddine” é um filme que se acompanha com prazer e encantamento. Seu único defeito, porém, talvez seja uma certa pressa em contar a história, uma certa ansiedade em manter os planos e as cenas em ritmo mais palatável ao grande público, abrindo mão de momentos mais contemplativos que poderiam acrescentar mais poesia à trama. Sinal dos tempos e dos mercados.