“ZOHAN” PERDE A CHANCE DE SER UMA BOA COMÉDIA SOBRE ÁRABES E JUDEUS.

Existem algumas boas e divertidas idéias na comédia Zohan – O Agente Bom de Corte. Entre elas, a de um serviço de atendimento telefônico do grupo radical Hezbollah que providencia o armamento necessário a qualquer um que se proponha a realizar um atentado. Algo do tipo: “Para bombas e explosivos, tecle 2″. Também é cheio de sarcasmo o conceito de que um empresário americano promove a discórdia entre os árabes e os judeus de um bairro nova-iorquino para que se destruam, abrindo espaço assim para a construção de um moderno shopping center. Não é exatamente a política do governo atual dos EUA?

O grande problema, porém, é que estas e algumas outras boas idéias estão diluídas num filme grosseiro, de humor chulo e rasteiro, de um estilo que faz Zorra Total parecer Shakespeare. Zohan – O Agente Bom de Corte sofre do profundo complexo de baixaria que assola alguns dos filmes estrelados por Adam Sandler.

O roteiro é do próprio Sandler, em parceria com Robert Smigel (escritor de vários episódios do programa de TV Saturday Night Live) e Judd Apatow (roteirista, entre outros, de O Virgem de 40 Anos). A idéia, a princípio, seria até simpática. Cansado dos intermináveis conflitos entre árabes e judeus, o super-agente do exército israelense Zohan Dvir (Sandler) foge de seu país para tentar realizar seu grande sonho em Nova York: tornar-se um cabeleireiro famoso. Claro que, lá chegando, ele logo vai perceber que a vida de imigrante não é nada fácil.

Todas as críticas que o filme faz contra a inutilidade das guerras, todas as piadas étnicas (algumas certamente locais demais para o público brasileiro) que o roteiro constrói para validar a riqueza da diversidade cultural e toda a mensagem pacifista destilada no final vai por água (ou esgoto?) abaixo numa enxurrada de escatologia e falta de sutilezas de revirar o estômago de qualquer espectador de gosto, no mínimo, razoável. Perde-se uma boa chance de transformar o conflito entre árabes e judeus na boa comédia que o tema mereceria.

No elenco, participações de John Turturro, Rob Schneider (provavelmente o pior ator cômico da nossa era), Henry Winkler, Chris Rock (numa rápida aparição como motorista de táxi) e até de Mariah Carrey, interpretando si própria