AS BELEZAS E OS HORRORES DA PATAGÔNIA NO RICO E POLÍTICO “O BOTÃO DE PÉROLA”.  

Por Celso Sabadin

Tudo começa com uma gota d´água fossilizada dentro de um cristal de quartzo com mais de três mil anos encontrado no deserto de Atacama. Não demora muito já estamos mergulhados no universo dos indígenas da Patagônia, com ligação direta e imediata para os horrores da ditadura militar chilena. Como? Graças à notável habilidade narrativa de Patrício Guzmán, que já havia utilizado este mesmo recurso, digamos, poético-documental, no excelente “Nostalgia da Luz”.

Com sua narração tranquila, Guzmán tem o poder de conduzir o público de maneira quase hipnótica, rodeando temas e tangenciando pontos cruciais até desembocar no cerne da questão que ele efetivamente deseja abordar com maior contundência. “O Botão de Pérola’ começa falando das estrelas, das galáxias, e da fundamental importância da água para a sobrevivência. Estranha, em seguida, o fato do chileno, de um modo geral, com mais de 4 mil quilômetros de litoral à sua disposição, ser um povo que não dá muita importância para a água. Aproveita o assunto e introduz elementos (belíssimos por sinal) das culturas indígenas da região da Patagônia. E de como eles foram massacrados pelo colonizador espanhol. Daí a enfocar outros massacres, acontecidos na mesma região, pelas mãos da ditadura Pinochet, é um pequeno passo para o homem, um grande passo para o documentário.

Em pouquíssimo tempo, o espectador se encontra totalmente submerso na complexidade, na beleza e na crueldade que envolvem a Patagônia, região tão significativa do nosso vizinho Chile, e ao mesmo tempo tão distante do nosso conhecimento e imaginário. Uma diversidade geográfica e cultural que Guzmán, com enorme talento, posiciona sob nosso olhares, fixando-as não apenas nas nossas retinas como também, e principalmente, em nossos corações e mentes. .

“O Botão de Pérola” (título que só compreenderemos em sua totalidade nas cenas finais do filme) obteve a façanha de vencer o prêmio de melhor roteiro no Festival de Berlim, mesmo sendo um documentário, o que, convenhamos, não é muito comum na história do cinema.

O filme estreou com exclusividade no CineSesc, em São Paulo, na quinta-feira, 26 de maio.