BATE PAPO EXCLUSIVO COM ANDREA PASQUINI, DIRETORA DE “FIEL”

Depois de assistir (e me emocionar muito) com o documentário “Fiel” (sim, sou corinthiano desde pequeno), conversei com exclusividade com a diretora do filme, Andrea Pasquini. Ela revela, entre outras coisas, que

Você já era corinthiana quando surgiu o projeto, ou tornou-se depois?
Andrea – Sim, eu já era corinthiana. Eu morava no interior de São Paulo quando criança e me lembro do fascínio que eu sentia pelo distintivo do clube. Era curioso que a aura que o distintivo emanava falava mais alto para mim do que até mesmo o futebol de dentro de campo já que eu morava numa casa só com mulheres (todas corinthianas também, não sei se por mim ou eu por elas). Eu olhava para nosso símbolo e me via dentro dele. Coisa de louco (risos).

É necessário um diretor corinthiano para este tipo de filme?
Andréa – Como documentarista eu sempre busco diversos ângulos de discussão para os filmes que faço. É certo que não se pode dizer que já fiz algum filme imparcial já que sempre acabo por me envolver muito com as histórias que conto e isso contribui para que eu assuma a uma posição, sim, é claro. Mas nesse caso, no caso do “Fiel”, tentar diversos ângulos de discussão me parecia algo improvável. “Fiel” é assumidamente um filme de exaltação do ser corinthiano e para isso ser um torcedor fiel certamente faria diferença e daria muito mais tranquilidade para abordar e assumir o filme assim.

Percebe-se que foi necessário recorrer a imagens de TV para mostrar os gols. Por que isso aconteceu? Alguma restrição à equipe filmar diretamente nos gramados?
Andrea – “Fiel” começou a ser rodado em outubro de 2008. No caso dos jogos trágicos contra o Vasco e o Grêmio, e nos demais de 2007 e 2008 nós não tínhamos outra opção já que o projeto do filme surgiu pós-rebaixamento. Felizmente conseguimos as transmissões dos dois jogos na íntegra, o que nos ajudou a ter além dos lances do jogo, as imagens dos torcedores.

Gravamos 3 jogos da série B. Em todos eles minha intenção era olhar para o torcedor. As transmissões dos jogos pela TV dão conta de mostrar sob muitos ângulos o que acontece dentro de campo, mas sempre senti falta de estar mais perto do que acontecia nas arquibancadas, no meio da torcida. Por isso eu quis que os 3 fotógrafos que gravavam os jogos estivessem sempre de olho no torcedor. Eu me lembro que em nossa reunião antes de sairmos a campo, nas manhãs dos sábados em que gravamos, eu sempre pedia para que eles resistissem ao chamado da bola no campo e se mantivessem calmos e à espreita das reações dos torcedores. Fiquei feliz com o resultado. Acho que nesses momentos onde vemos os torcedores em plena atividade apaixonada no estádio o filme pulsa também.

Quem não é corinthiano vai gostar do filme? Ou vai morrer de inveja? (risos)
Andrea – Bem… Desde o início eu tinha a intenção (ou seria pretensão? risos) de fazer um filme que agradasse a quem gosta de cinema, de documentários, e de filmes que falem de paixão. Acho que o corinthiano realmente é muito devotado, mas falar de paixão por um time é um tema universal. Já conversei com amigos torcedores de outros times e eles gostaram, de verdade. Mas é claro que são torcedores “versão light” (risos). Aqueles que torcem para dois times (o seu e contra o contra o Corinthians) certamente vão passar longe do cinema…
Mas pensando bem, acho que eles não vão resistir e assistirão, só para falar mal (risos).

Até que ponto o filme ser “oficial” do Corinthians, como diz o letreiro inicial, influenciou ou não no roteiro?
Andrea – Quando fui convidada para dirigir o filme eu tinha duas preocupações: a primeira dizia respeito ao roteiro já que o documentário é um gênero que exige muita flexibilidade durante sua criação. O foco deve ser muito bem delimitado de início, mas ele se formata realmente no momento da gravação e da montagem. Então eu precisava participar ativamente de todo o processo. A segunda era justamente sobre ser um “filme oficial do Corinthians”. O produtor me garantiu que eu teria total liberdade para definir linguagem, entrevistados e conteúdo do documentário. Confesso que eu tinha muito receio de que algo pudesse ser censurado, mesmo que sutilmente, mas a diretoria do clube se manteve distante de todo o processo e realmente nos deu carta branca.