BELAS ARTES FAZ MOSTRA COMPLETA DE SÉRGIO BIANCHI.
A mostra Sergio Bianchi reúne os principais filmes do cineasta que é um dos mais radicais críticos da realidade brasileira. Com sessões diárias na Caixa Belas Artes, a mostra exibe Mato Eles? (1982), Romance (1988), Cronicamente Inviável (2000), Quando Vale ou É Por Quilo? (2005), Os Inquilinos (2009) e Jogo das Decapitações (2013).
O paranaense Sergio Bianchi se formou em cinema pela Escola de Comunicação e Artes da USP em 1972, ocasião em que dirigiu o curta-metragem Omnibus. Em 1977 realizou o curta A Segunda Besta e dois anos mais tarde estreava o seu primeiro longa-metragem Maldita Coincidência (1979). Nesses primeiros filmes de Bianchi havia uma inclinação mais formalista e performática que não teria continuidade nos seus filmes seguintes. Entretanto, se os curtas apresentavam exercícios formais interessantes, Maldita Coincidência era mais ambicioso na sua avaliação distópica do fim da contracultura.
Em 1982 Sergio Bianchi realiza o média-metragem documental Mato Eles?, vencedor do prêmio de melhor direção no Festival de Gramado e do Grande Prêmio do Festival de Cinema da Cidade do México. É considerado ainda hoje um dos retratos mais arrasadores da questão indígena. Em Romance (1988), Sergio Bianchi faz uma espécie de luto de uma geração. Nos anos 90, Sergio Bianchi faria só um filme, A Causa Secreta (1994), baseado em conto de Machado de Assis, e na primeira década dos anos 2000 lança dois dos seus filmes mais emblemáticos em razão da virulência de sua crítica da realidade brasileira: Cronicamente Inviável (2000) e Quanto Vale ou é Por Quilo? (2005). Em ambos os filmes, Bianchi lança um olhar para a atualidade sob uma perspectiva histórica das violências social, política e racial do Brasil. Em Os Inquilinos (2009), o diretor faz uma crônica do cotidiano de uma família na periferia de São Paulo. Filme este mais sereno, mas não menos contundente.
Em 2013 é lançado Jogo das Decapitações, filme que intuiu com alguma antecedência as movimentações políticas que agitaram o Brasil naquele ano.
Francis Vogner dos Reis
Curador
Filmografia
Omnibus – curta metragem – Direção, roteiro e montagem- 1972.
A Segunda Besta – curta metragem – Direção – 1977.
Maldita Coincidência – longa metragem – Direção e roteiro – 1979.
Mato Eles? – média metragem. Direção e roteiro – 1982.
Divina Previdência – curta metragem – Direção e roteiro. 1983.
Entojo – curta metragem – Direção – 1984.
Romance – longa metragem – Direção e roteiro – 1988.
A Causa Secreta – longa metragem – Direção e roteiro – 1994.
Cronicamente Inviável – longa metragem – Direção e roteiro. 2000.
Quanto Vale ou é por Quilo? – longa metragem – Direção e roteiro – 2005.
Os Inquilinos – Os incomodados que se mudem – longa metragem – Direção e co-roteiro – 2009.
Jogo das Decapitações – longa metragem – Direção e roteiro – 2013.
Filmes da programação
MATO ELES?
Ano: 1983
Ficha Técnica:
Média-metragem – Documentário – 33 min. – 16mm – cor.
Fotografia: Pedro Farkas
Roteiro: Jacó Picolli e Sergio Bianchi
Montagem: Eduardo Albuquerque e Sergio Bianchi
Elenco: Dom Albano Cavalim, Lota Moncada, Jacó César Piccoli, Isaac Bavaresco, Antonio Carlos Kraide, Índios Kaigang, Índios Guaranis, Índios Xetá.
Sinopse
O extermínio suave dos últimos índios da reserva de Mangueirinha, no sudeste do Paraná, com a conivência daqueles que os deveriam proteger. Com uma ironia cortante, as questões se desenvolvem como numa estrutura de teste de múltipla escolha.
ROMANCE
Ano: 1988
Ficha técnica
Longa metragem – Ficção – Drama – 103 min. – 35mm – cor.
Fotografia: Marcelo Coutinho
Roteiro: Fernando Cony Campos, Mario Carneiro, Caio Fernando Abreu, Cristina Santeiro, Cláudia Maradei e Suzana Semedo.
Montagem: Marília Alvim.
Elenco: Rodrigo Santiago, Imara Reis, Isa Kopelman, Hugo Della Santa, Cristina Mutarelli, Sérgio Mamberti, Beatriz Segall, Maria Alice Vergueiro, Elke Maravilha, Ruth Escobar, Emilio di Biasi, Claudio Mamberti, José Rubens Chachá.
Sinopse
A morte inesperada de António César, um intelectual de esquerda, que escrevia um livro onde denunciava um escândalo internacional em que estavam metidas autoridades políticas, repercute sobre três pessoas diferentes. A história multiplica-se seguindo os passos interligados dos três personagens: Regina, jornalista, parte à procura de informações que desvendem o escândalo; Fernanda, companheira e vítima do discurso de António César sobre a liberdade do comportamento, tenta viver o seu discurso, mas perde-se e vê-se mergulhada na angústia; André, homossexual e amigo do morto, paga, também ele, o seu tributo à ideologia da libertação sexual.
CRONICAMENTE INVIÁVEL
Ano: 2000
Ficha técnica
Longa metragem – Ficção – Drama – 100 min. – 35mm – cor.
Fotografia: Marcelo Coutinho e Antonio Penido
Roteiro: Gustavo Steinberg e Sergio Bianchi
Montagem: Paulo Sacramento.
Elenco: Cecil Thiré, Betty Gofman, Daniel Dantas, Dan Stulbach, Umberto Magnani, Dira Paes, Leonardo Vieira, Cosme dos Santos, Zezé Mota, Zezeh Barbosa, Claudia Mello, Rodrigo Santiago e outros
Sinopse
O filme narra uma série de situações de convivência e conflitos entre os cinco personagens principais e a realidade com a qual se defrontam, sempre gerando complicações, cada um à sua maneira. O eixo destas situações é um restaurante em São Paulo, de propriedade de Luis (Cecil Thiré), onde alguns personagens do filme aparecem reunidos em vários momentos do filme, seja à mesa jantando, observando e constatando a realidade ao seu redor e em suas vidas, seja trabalhando na cozinha e como garçom.
QUANTO VALE OU É POR QUILO?
Ano: 2005
Ficha técnica
Longa metragem – Ficção – Drama – 110 min. – 35mm – cor.
Fotografia: Marcelo Corpanni
Roteiro: Eduardo Benaim, Newton Cannito e Sergio Bianchi
Montagem: Paulo Sacramento.
Elenco: Ana Carbatti, Cláudia Mello, Hérson Capri, Caco Ciocler, Ana Lucia Torre, Silvio Guindane, Myriam Pires, Lena Roque, Lázaro Ramos, Ariclê Perez, Zezé Motta, Antônio Abujamra, Ênio Gonçalves, Clara Carvalho, Moemi Marinho, Caio Blat, José Rubens Chachá, Leona Cavalli, Umberto Magnani, Joana Fomm, Marcélia Cartaxo e Odelair Rodrigues.
Sinopse:
O filme é uma adaptação livre do conto “Pai Conta Mãe”, de Machado de Assis, e traça um paralelo entre a vida no período da escravidão e a sociedade brasileira contemporânea, focalizando as semelhanças existentes no contexto social e econômico das duas épocas. Apesar de ser um filme de ficção, a escravatura é mostrada como está descrita nesses documentos e em outros escritos históricos da época. As cenas atuais, por sua vez, reproduzem aquilo que pode ser visto em qualquer rua de qualquer lugar do Brasil de hoje.
OS INQUILINOS – OS INCOMODADOS QUE SE MUDEM
Ano: 2009
Ficha técnica
Longa metragem – Ficção – Drama – 103 min. – 35mm – cor.
Fotografia: Marcelo Corpanni
Roteiro: Beatriz Bracher e Sergio Bianchi
Montagem: André Finotti
Elenco: Ana Carbatti, Marat Descartes, Ailton Graça, Zezeh Barbosa, Paschoal da Conceição, Leona Cavalli, Sergio Guizé, Cassia Kiss, Umberto Magnani, Cláudia Mello, Sidney Santiago.
Sinopse:
Valter é empregado em uma banca de frutas de um entreposto comercial, cursa a escola noturna e, no pouco tempo que sobra, mora com a mulher, Iara, e os dois filhos em uma rua da periferia de uma grande cidade. Com a chegada de três jovens, os novos inquilinos da casa dos fundos do vizinho, seu Dimas, há no ar o sentimento de território invadido e pressente-se a possibilidade de reações violentas.
JOGO DAS DECAPITAÇÕES
Ano: 2013
Ficha técnica
Longa metragem – Ficção – Drama – 96 min. – 35mm – cor.
Fotografia: Rodolfo Sanchez
Roteiro: Francis Vogner, Eduardo Benaim e Sergio Bianchi.
Montagem: André Finotti
Elenco: Fernando Alves Pinto, Silvio Guindane, Clarisse Abujamra, Maria Manoella, Paulo Cesar Pereio, Sergio Mamberti, Antonio Petrin, Ana Carbatti, João Velho, Janaina Leite, Eduardo Acaiabe, Renato Borghi.
Sinopse
Leandro é filho de Cecília, uma ex-militante que aguarda uma indenização do Estado devido a perseguição sofrida no regime militar. Na USP tem aulas com Plínio, influente professor marxista. Em sua pesquisa de mestrado, Leandro se desvia de seu projeto original e investiga o paradeiro do filme censurado (e desaparecido) nos anos 70 “Jogo das Decapitações”, do falecido e iconoclasta cineasta Jairo Mendes, desafeto da direita e da esquerda.
Pr
Fortuna crítica
Mato Eles?
“Original, engraçado, contundente. Um filme como este nunca foi feito no Brasil.” Edmar Pereira – Jornal da Tarde -1983 sobre Mato Eles?
“Mato Eles? – o melhor documentário sobre a exploração dos índios já feito no Brasil.” Luiz Nazário – Diário do Grande ABC – 1981.
“Mato Eles? é verdadeiramente o estudo de um fato real, cuja pesquisa e divulgação realmente pode trazer algo além da reafirmação do ressentimento na sociedade (…) Não resta pedra sobre pedra.” Ruy Garnier – Contracampo – 2006.
Romance
“Romance é desses filmes que superam as imperfeições formais surpreendendo o espectador pela vigorosa impressão que deixa na mente e nos olhos.”Amir Labaki – Folha de São Paulo – 1988.
“Romance faz um inspirado casamento entre a força imediata da denúncia e a inteligência do cinema de invenção.” Jornal do Estado – Curitiba – 1988.
“Sérgio Bianchi consegue, com uma maestria de fazer inveja, unir os desesperos individuais de suas personagens com o desespero nacional. O diretor mostra, de quebra, que o cinema brasileiro pode ser feito de uma maneira definitiva, madura, explícita e completa.” Alexandre Ribondi – Correio Braziliense – 1988.
Cronicamente Inviável
“Sérgio Bianchi fez um dos melhores filmes da década…é um ataque frontal e eficaz contra o Brasil imaginado por um Darcy Ribeiro ou Gilberto Freyre.”
Carlos Augusto Calil – Folha de S. Paulo -2000.
“Cronicamente Inviável traz denúncia moral e desconforto. O filme é excelente, mas excelente de um jeito que os filmes não costumam ser… que diabo acontece neste filme que nega, desfaz e refaz o que acaba de ser apresentado? É esse jogo que torna Cronicamente Inviável uma obra tão interessante.”
Marcelo Coelho – colunista – Folha de São Paulo 10/05/2000.
“O filme é didático na crítica ao autoritarismo…tem endereço social revolucionário, no sentido de criticar as elites podres que fazem outros setores apodrecerem”.
Aziz Ab’Saber – em debate sobre o filme realizado pela Folha de S. Paulo – 2000.
“Trata-se de um filme que, por levar o mal-estar ao paroxismo, pode sacudir o terreno e contribuir para um salto de qualidade no cinema. Chega-se ao ponto limite da discussão moral e aí se faz mais forte o senso da reflexibilidadre. Bianchi, ao contrário da diatribe conservadora, traz ao centro a ironia ferina de quem tem a lucidez de não poupar a si próprio”. Ismail Xavier – Crítico de cinema – Revista Praga – 2000.
Quanto Vale ou é Por Quilo?
“O Brasil no cinema de Sergio Bianchi é uma terra arrasada moralmente, uma nação inclinada à autofagia social. É um mundo mais que sombrio este, e não é difícil que cause certa reação em quem prefira o Brasil edulcorado que está em boa parte do cinema nacional recente. Este universo de Bianchi, até agora traduzido por uma cinematografia mal-acabada, ganha precisão digna de um Sergei Eisenstein em Quanto Vale ou É por Quilo?”. Paulo Santos Lima – Folha de S. Paulo – 2005.
“Ele olha para hoje e vê a persistência dessas relações. Daí o título do filme que também é genial, Quanto Vale ou É por Quilo? e nele você tem cenas de violência inaudita que são a rotina na vida brasileira, principalmente na vida dos pobres, que põem parecer peripécias mas estão inscritas na lógica daquelas relações”. Iná Camargo Costa – Quanto Vale um Cineasta Brasileiro, Sérgio Bianchi em Palavras, Imagens e Provocações, de Marcelo Soler – 2005.
Os Inquilinos
“É possível dizer que Os Inquilinos é o primeiro filme não panfletário de Sérgio Bianchi. Quem pensa que o diretor, famoso por sua língua ferina e sagaz, sente-se incomodado ao ouvir tal afirmação engana-se. “Cansei de fazer panfleto, apesar de achar que foi necessário. Era a única forma de dizer o que queria”, responde Bianchi.
Flavia Guerra – O Estado de S. Paulo – 2010.”
“Os Inquilinos amola o “cinema-faca” – definição para a obra do paranaense Sérgio Luis Bianchi – a um limite que a jugular da classe média raras vezes suporta na filmografia nacional.”
Rodrigo Fonseca – O Globo – 2010.
“Sérgio Bianchi (Quanto Vale ou É Por Quilo?) mantém seu estilo combativo e o prazer por tocar em feridas. Porém, Os Inquilinos, seu sexto longa-metragem, apresenta um tom mais calmo, com mais espaços para dúvidas em torno de seus personagens”.
Heitor Augusto – CineClick – 2009
“O filme se impõe como um autêntico reposicionamento de curso e interesses do diretor na cena brasileira atual.”
Eduardo Valente – Cinética – 2009
Jogo das Decapitações
“Em Jogo das Decapitações, Bianchi deixa de lado a sutileza que esteve presente em seu filme anterior – Os inquilinos – e, novamente, atira para todos os lados sem poupar praticamente nada: a direta e esquerda, as manifestações populares, políticas sociais, movimentos estudantis, mundo acadêmico, arte etc. Nada muito diferente do que fez até então, em filmes como Quanto vale ou é por quilo e Cronicamente inviável.”
Alysson Oliveira – Cineweb – 2014
“Na ânsia de expor todas as mazelas, hipocrisias, violências submersas, discursos subjugados e subjugadores, a metralhadora giratória de Bianchi parece não poupar nada: não sobra alicerce algum. Assim, ao mesmo tempo em que surge, pelo choque e exasperação, uma natural desconfiança em relação a validade de sua abordagem acerca de tais temas, acompanha-nos uma profunda sensação de desamparo, desorientação. Ao não sucumbir nunca à uma conciliação, ao bancar essa falta de alicerce, nunca permitindo uma adesão completa ou fácil sensação de conforto para o receptor, o cinema de Bianchi atinge um pensamento crítico de vitalidade rara”.
Guilherme Savioli – Revista Interlúdio 2014
“Outras cenas memoráveis – e igualmente terríveis – são a do linchamento de um homem que atropelou uma pessoa e a da “oficina de teatro” ministrada numa escola rural por um ex-guerrilheiro (Elias Andreato). Nesta última, salvo engano o único momento em que o filme se afasta do protagonista, o ex-guerrilheiro entoa com vigor uma velha canção política, diante do olhar jocoso de jovens indiferentes. Mundos em descompasso, ideias fora do lugar, línguas distintas, cabeças cortadas”.
José Geraldo Couto – Blog do IMS – 2014