BETO RODRIGUES: “FALAR PORTUGUÊS COMPLICA.”

O produtor e distribuidor gaúcho Beto Rodrigues, que participa do 20  FAM  – Flrianópolis Audiovisual Mercosul como palestrante no painel “Distribuição de Filmes Latino Americanos”, fala em entrevista sobre as eternas e aparentemente insolúveis dificuldades de mercado do cinema latino.

Um produto importado sempre é mais caro que um produto nacional, mas um ingresso de cinema para ver um filme brasileiro tem o mesmo preço de um ingresso de filme norte-americano. Como você vê isso?

Beto – Esta é uma tradição que vem desde o nascedouro do cinema, e seria muito difícil alterar essa ordem. É uma das várias injustiças que você vê na vida e que provavelmente não vai mudar nunca. Mas partindo deste gancho, o que é escandaloso mesmo é um pequeno filme de arte pagar as mesmas taxas e impostos de um grande blockbuster. Por exemplo, um filme iraniano do Abbas Kiarostami, que chegou ao Brasil com três cópias (na época do 35 milímetros), pagou as mesmas taxas e impostos que o Batman da época, que foi lançado, naquele momento, com 700 cópias. Não tem cabimento que uma produção hollywoodiana bilionária, que vem para o Brasil e leva divisas para lá, pague o mesmo imposto de um pequeno filme artístico. É ilógico! E este é um dos vícios que derruba a presença dos filmes latino americanos em seus respectivos países. Deveria haver proporcionalidade. Não uma proporção direta e aritmética, mas deveria haver uma proporcionalidade crescente que não desestimule a vinda dos filmes estrangeiros para cá.

Até que ponto o fato do Brasil falar português complica as nossas coproduções com os países de língua espanhola?

Beto – Complica totalmente! Nosso idioma é muito peculiar. A Espanha viveu um boom econômico nos anos 90, com sua entrada no mercado comum europeu, e isso atraiu várias coproduções de diversos países latino americanos. Um produtor sul americano de língua espanhola tem mais facilidade de levantar junto a um produtor espanhol algo em torno de, digamos, 200 mil euros, e este dinheiro chega na América do Sul forte, valorizado. Fora que elimina custos de dublagem e legendagem.

E tem mais: quando uma empresa da Espanha entra numa produção, ela também tem mais facilidade em atrair para o filme uma outra produtora inglesa, francesa, italiana, ou uma distribuidora francesa que acaba adiantando 50 mil euros. Tudo isso facilitou as coproduções com países de língua espanhola da América do Sul, ao mesmo tempo em que complicou a situação do Brasil.

E como Brasil tem reagido a isso?

Beto – Nós mesmos somos também responsáveis por isso, pois durante muito tempo introjetou-se por aqui aquela mentalidade da época da Embrafilme, de se fazer um cinema brasileiro especificamente para o público brasileiro. Acabamos voltando nossas costas para o resto do mundo. Mas hoje eu vejo nossa barreira do idioma em franco processo de superação, porque nos últimos anos o Brasil se tornou atraente sob vários pontos  de vista. Tanto que estamos de volta aos maiores festivais de cinema do mundo.Mas este tipo de barreira se supera com investimentos, e não com lero-lero.