BRASÍLIA 2014: FESTIVAL ELIMINA LIMITES ENTRE DOCUMENTÁRIO E FICÇÃO.

Ouvir e ver “Se entreeeega, Corisco” com o som perfeito e o exuberante preto e branco explodindo na tela do Cine Brasília, como diz aquela propaganda, não tem preço. A noite de abertura do 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro teve a feliz ideia de homenagear os 50 anos do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha, exibindo-o em cópia restaurada e tinindo de nova. Lembrando que a primeira vez que o filme foi exibido no país foi poucos dias antes do golpe de 64.

O Cine Brasília, principal palco do evento, foi classificado na noite de ontem como “a melhor sala de cinema do Brasil”, nas palavras de Hamilton Pereira, Secretário de Cultura do Distrito Federal. Após uma extensa reforma que incluiu a instalação de um moderno sistema de projeção digital (“sem deixar de lado o bom e velho 35 milímetros”, ressalta Pereira), o Cine Brasília finalmente ficou à altura da importância do evento, com som excelente, projeção das mais nítidas e brilhantes, além de grandes e confortáveis poltronas.

A abertura da 47ª edição do Festival contou também com um elemento sempre presente na esmagadora maioria dos festivais de cinema pelo país: o atraso. A cerimônia, prevista para as 20 horas, só teve início uma hora mais tarde. E, mesmo assim, apresentou momentos de flagrante desorganização e amadorismo, como a montagem do palco para a apresentação da Orquestra de Câmera de Brasília sendo feita enquanto os apresentadores assumidamente “enrolavam” a plateia. Um pecado menor que foi esquecido logo após as primeiras imagens de “Deus e o Diabo” invadirem a tela.

MAIS DEMOCRACIA

Duas novidades do Festival deste ano, quando anunciadas na cerimônia de abertura, provocaram aplausos do público. A primeira, a eliminação da diferenciação entre “ficção” e “documentário” nos filmes em competição. Solidificando uma tendência mundial que se instala na produção cinematográfica já há alguns anos, o Festival de Brasília a partir de agora também passa a considerar que um filme é um filme, e rotulá-lo como ficção ou documentário é uma atitude cada vez mais sem função, principalmente quando são várias as produções que subvertem abertamente estes tênues limites.
A segunda novidade é a democratização da escolha do Prêmio Popular. Até o ano passado, apenas o público presente no Cine Brasília podia votar em seus filmes favoritos. Agora, a votação também se estende para as cidades-satélite de Ceilândia, Gama, Taquatinga e Sobradinho, que também exibirão os filmes da Mostra Competitiva. Nas cidades-satélite, a entrada do público é gratuita. No Cine Brasília, o ingresso custa R$ 12,00.
Iniciando-se hoje e se estendendo até a próxima segunda-feira, 22, a Mostra Competitiva do Festival de Brasília exibirá 6 longas e 12 curtas, que foram selecionados de um universo de 612 filmes inscritos. Fora as várias mostras paralelas, debates, painéis, seminários e oficinas que se espalham por vários cantos da cidade.

Celso Sabadin viajou a Brasília a convite da organização do evento.