BRASÍLIA 2017 COMEÇA EM GRANDE ESTILO.

Celso Sabadin, de Brasília.

Foi uma longa noite, de sensações e cansaços. Com uma hora e quinze minutos de atraso, a cerimônia de abertura do 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro foi repleta de momentos emocionantes e homenagens históricas. Nem poderia ser diferente num ano em que nada menos que três cineastas muito caros e próximos ao cinema brasiliense nos deixaram: Geraldo Moraes, Manfredo Calda e Márcio Curi, todos devidamente homenageados com emotivos curtas metragens.

A entrega da Medalha Paulo Emílio Salles Gomes a Nelson Pereira dos Santos, aqui representado por familiares, também foi digna de uma edição comemorativa. Afinal, não é todo dia que monstros do cinema brasileiro como Vladimir Carvalho e Jean-Claude Bernardet dividem o mesmo palco, e ainda por cima para reverenciar Nelson Pereira, sob a égide de Paulo Emílio. Um momento mágico! Como mágica também foi a performance do ator Matheus Nachtergaele encarnando um candango num magnífico monólogo poético sobre a história do nosso cinema. Um texto empolgante de Eduardo Valente, com colaboração de Guilherme Reis, Jorge Vermelho e do próprio Matheus. Ao final do monólogo, um grito visceral de “Fora Temer” sai das entranhas de Matheus, incendiando a plateia presente ao Cine Brasília. Um grito tão fundamental, importante e urgente, quanto tristemente inútil e desesperador. Vale ressaltar que a foto de Matheus que ilustra esta matéria é da amiga, colega e companheira de militância Maria do Rosário Caetano.

A exibição dos filmes da noite propriamente ditos também foi em grande estilo. O curta “Festejo Muito Pessoal”, do sempre provocativo e experimental Carlos Adriano, faz uma colagem artístico-poética dos filmes referência de Paulo Emílio, a partir de uma releitura afetiva do universo do famoso professor e fundador do Festival de Brasília. O filme teve como ponto de partida o artigo homônimo escrito por Salles em 1977, e tem como uma das finalidades chamar a atenção para a importância da preservação do nosso cinema diante da enormidade de títulos irremediavelmente perdidos ao longo da história.

Na sequência, o longa “Não devore meu coração!”, de Felipe Bragança, traça um paralelo entre uma contemporânea rivalidade de gangues na fronteira Brasil/Paraguai, e a vergonhosa Guerra do Paraguai, onde a suposta “docilidade” do nosso povo dizimou o país vizinho.

Tudo sob o ponto de vista de um garoto brasileiro que se apaixona por uma menina indígena, à sombra da violência ora latente ora explicita que une/separa os dois povos. No elenco, Cauã Reymond, Eduardo Macedo, Adeli Benitez, Leopoldo Pacheco, Cláudia Assunção, Marco Lóris, Márcio Verón, Zahy Guajajara e uma breve participação de Ney Matogrosso. No palco do Festival, o diretor Bragança destacou a formação coronelista das elites brasileiras, responsáveis tanto antigamente como agora pelo nosso subdesenvolvimento econômico e humano.

 

Ambos os filmes foram exibidos fora de competição. A Mostra Competitiva do Festival tem início na noite de hoje

 

Celso Sabadin viajou a Brasília a convite da organização do evento.