CINE OLYMPIA, EM BELÉM, COMEMORA 100 ANOS.
Era uma vez a Belle Époque. A ‘era dourada’ que iluminava a capital paraense com a cultura européia e dos trópicos, tinha como seus principais pilares as belas construções e conjuntos arquitetônicos aonde a intelectualidade aflorava. Um dos locais mais ‘badalados’ era o Theatro da Paz, na Avenida Presidente Vargas com seus túneis de Mangueiras e o Grand Hotel. Mas ao lado, tinha ainda um belo cinema completando o quadro. Com a influência da arquitetura Art Deco, o Cine Olympia foi inaugurado no dia 24 de abril de 1912, durante o governo de Antônio Lemos e era ponto de encontro, aonde o luxo e o requinte do espaço combinavam em perfeita harmonia com a sofisticação da fervilhante sociedade paraense. Era um período rico em diversos aspectos, e o Cinema Olympia projetava sonhos, filmes de Chaplin, Greta Garbo e Rodolfo Valentino enquanto as damas e cavalheiros se encontravam pelos corredores usando seus melhores trajes.
O tempo passou, a paisagem foi se modificando e o que resta do então glorioso entorno, são o Theatro da Paz e o Cine Olympia. Tombado, o Theatro é uma das ‘menina dos olhos’ do governo estadual, que na atual gestão realizou uma portentosa – e necessária reforma e manutenção no local. O Olympia ameaçou não sobreviver até a chegada de seu centenário. Com inúmeras dificuldades, o cinema quase fecha as portas em 2006. Protestos de artistas e agitadores culturais fizeram a prefeitura assinar um contrato de locação do espaço que já dura seis anos com uma programação de qualidade que visa formar uma platéia que veja o cinema como arte além de pura diversão.
Patrimônio Histórico
O presidente da Fumbel (Fundação Cultural do Munícipio de Belém que administra o espaço) Carlos Amilcar, contou que especialistas do departamento de patrimônio histórico estão fazendo estudos e pesquisas para verificar se, além de ser o cinema mais antigo em funcionamento no país, o Olympia pode ser a casa de exibição audiovisual em atividade mais antiga em funcionamento no mundo, o que valeria um registro no Guiness Book – o livro dos recordes. “Talvez seja o cinema mais antigo do mundo, tem um na França que foi inaugurado antes mais ficou um tempo sem funcionar durante a guerra. O Olympia nunca parou de funcionar, fez apenas alguns intervalos na programação para reformas”, contou Amilcar, que acrescentou que desde que a Fumbel assumiu a administração a fachada do cinema foi revitalizada e benfeitoras foram feitas, como a revisão da cobertura de instalações elétricas e da estrutura hidráulica.
“Em dezembro do ano passado o cinema recebeu uma pintura completa. Como é um espaço público não cobramos ingresso, mas creio que o maior problema que enfrentamos em termos de programação e captação de platéia é com os filmes, por que só podemos alugar cópias em 35 mm, e a maioria dos filmes hoje vem em cópias digitais”, informou Amilcar.
Futuro projetado
Para Amilcar, a obrigatoriedade do Cine Olympia estar vinculado apenas à reprodução de filmes como sua principal atividade, é algo que está muito claro para prefeitura de Belém. “O prefeito está sancionando a lei para que ele se torne nosso patrimônio, e quando esse processo for concluído não permitiremos possíveis mudanças futuras de atividade. Estamos com um planejamento pronto de revitalização e manutenção do espaço, e queremos dar de presente um projetor digital quando completar cem anos em Abril, tudo para que o Olympia seja intocável, conservado e usado como cinema”, frisou.
Segundo ele, entre as atividades e projetos para celebrar o centenário cinema, está previsto um evento grandioso no dia 24 de abril, que já conta com a mobilização da cena cultural de Belém. “Estamos criando na Fumbel uma comissão para trabalhar em cima das ações do centenário. Temos artistas que já demonstraram interesse em fazer parte e mobilizar cineastas de fora para virem prestigiar e participar de um evento eclético que terá uma exposição e exibições; os críticos Luzia Miranda e o Pedro Veriano estão organizando um livro que contam a história do cine Olympia e vamos fazer exibições de filmes emblemáticos que passaram nesses cem anos”, contou o presidente.
“Os cartunistas querem homenagear o cinema, então estamos nos programando para liberar algumas paredes do cinema de forma que eles possam fazer desenhos e intervenções temáticas. Faremos um catálogo recontando a história do Olympia do ponto de vista do patrimônio, mostrando detalhes e fazendo reconstituições, com muita informação, tudo para celebrá-lo e que deverá estar pronto até o centenário”, concluiu Carlos Amilcar.
100 anos – Mostras, seminário e filmes
Gerente do cinema há cinco anos, Nazaré Morais garantiu que boa parte da programação alusiva ao centenário do Olympia já está fechada: “Estamos planejando desde metade do ano passado as ações, sendo que a primeira foi o relógio de contagem regressiva no site, com apoio da Sol Informática. E em parceria com a Associação de Críticos de Cinema do Pará, vamos realizar um seminário intitulado “O primeiro século do cinema Olympia – História e Perspectivas” de 20 a 22 de abril, com o apoio da Universidade Federal do Pará”.
Marco Antônio Moreira, programador e membro do comitê gestor do Cine Olympia, enfatizou que programações alusivas ao centenário estão acontecendo desde o inicio de 2012. “Fizemos a Mostra do Mazzaropi, que já esteve várias vezes na tela desse cinema e a Mostra Cinema e Carnaval com muitos filmes que já passaram aqui também. No momento, estamos com a mostra de filmes do Eryk Rocha, que é filho do Glauber Rocha e tem obras significativas, e faremos inclusive o lançamento do ‘Transeunte’, o primeiro filme de ficção dele”. Para Moreira, a mobilização entre artistas tem sido intensa, com muita gente querendo colaborar com o centenário.
“O cineasta Fernando Segtowick está dirigindo um documentário sobre esse momento do centenário do cinema, o músico Robenari, da Amazônia Jazz Band, foi convidado para criar um tema musical e queremos contatar a família do maestro Altino Pimenta para reaver a gravação de uma valsa que ele compôs sobre o Olympia há décadas atrás. Temos uma videomaker, Katiuscia de Sá, que criou a vinheta do centenário e diversos vídeos que recontam a história através de fotos, que serão exibidos antes das sessões a partir de março”, pontuou o programador e critico de cinema.
Através da ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará), ele ainda programou no Olympia exibições na sessão Cinemateca, quinzenalmente aos domingos, de filmes que foram exibidos no espaço, como “A Estrada da Vida, de Felini. “Teremos uma mostra da Lume Filmes, distribuidora do Maranhão que tem obras de Sam Peckinpah, Ken Loach e Robert Bresson. Na programação do festival do centenário, o público vai poder rever obras como “O Império dos Sentidos”, filme japonês que ficou seis meses em cartaz no cinema nos anos 80 entre outros sucessos que marcaram a história do Cine Olympia”, finalizou.

