CINE PE 2013: CURTA PAULISTA É O FILME MAIS APLAUDIDO DA PRIMEIRA NOITE.

Novamente a cena se repetiu. Nem a chuva do início da noite nem a forte ventania foram suficientes para arrefecer os ânimos do público pernambucano, que mais uma vez formou grandes filas para acompanhar o CinePE, o Festival de Cinema de Pernambuco.

E a noite já começou em clima de reivindicações: a equipe do curta alagoano “12:40” subiu ao palco para apresentar seu filme munida de camisetas, cartazes e uma faixa da campanha “Alagoas, Quebre o Balcão”. O protesto tem a ver com o fato daquele estado ter produzido seu “mais recente” longa metragem no longínquo ano de 1971, o que, segundo os manifestantes, se deve à falta de políticas públicas de incentivo à cultura alagoana. Dirigido por Dário Jr., “12:40” mostra a situação limite a que chega um trabalhador comum, afogado em contas que não consegue pagar. Demonstrando bom domínio de câmera e precisão narrativa, o curta foi realizado como trabalho de conclusão de curso, e – ao menos por esta pequena amostragem – sinaliza que Alagoas, estado de muito pouca representatividade em festivais, está preparada para fazer um cinema de qualidade.

Na sequência, foi exibido o filme mais aplaudido da noite: a ficção paulista “Íris”, de Kiko Mollica. Com roteiro de José Roberto Torero, o curta é totalmente “visto” sob a óptica de um homem quase cego. Sarcástico e bem humorado, características típicas dos roteiros de Torero, “Ísis” foi ovacionado no CinePE.

O mesmo não aconteceu com a segunda parte do programa da noite, formada pelo curta “Joana” e pelo longa “Giovanni Improta”.
Com direção de Daniel Pinheiro Lima, o curta mineiro é uma singela animação sobre uma menina de rua que tem o poder de controlar a chuva. E o longa carioca, que marca a estreia na direção do ator José Wilker (que também protagoniza o filme), traz um humor que não conseguiu animar a sempre animada plateia do CinePE.

Giovanni Improta é um personagem criado por Aguinaldo Silva, e que chegou ao grande público através da novela ”Senhora do Destino”, onde também foi interpretado por José Wilker. Bicheiro, contraventor, milionário, misto de ignorância e suposta esperteza tipicamente brasileira, Giovanni agora ganha esta versão cinematográfica produzida por Cacá Diegues. Na história, ele pensa largar a vida de crimes para se dedicar com mais paixão à companheira com a qual se recusa a casar (Andréia Beltrão). O humor do filme, porém, não funcionou por aqui. Talvez excessivamente carioca, o roteiro estagnou num perigoso meio termo que nem escancara para a chanchada, nem busca a crítica social, e muito menos preza pela sutileza. O interessante elenco de apoio, com Milton Gonçalves, Hugo Carvana, Jô Soares, Paulo Goulart e outros, não foi suficiente para levantar o filme.

Na noite de hoje, serão apresentados mais dois longas em competição: o documentário paulista “Orgulho de Ser Brasileiro”, de Adalberto Piotto, e a ficção “Vendo ou Alugo”, de Betse de Paula.

Celso Sabadin viajou a Recife a convite da organização do evento.

Foto: Kiko Mollica e José Roberto Torero, do filme “Ísis”.