CINEMATECA RETOMA CICLO SOBRE CINEMA MARGINAL BRASILEIRO.

Prossegue na Cinemateca (São Paulo) até 13 de dezembro a Mostra Cinema Maginal Brasileiro, trazendo alguns dos filmes mais significativos produzidos nos efervescentes anos 1960 e 1970.

Muitos dos filmes que surgiram neste período, radicalizando a linguagem cinematográfica, passaram a ser designados pelo rótulo “Cinema Marginal” – termo, entretanto, visto com desconfiança e até desprezo pela maioria dos realizadores desses filmes. O conjunto dessa produção heterogênea poderia também ser designado por Cinema Experimental, Cinema Poesia, Cinema Underground, Udigrúdi ou Cinema de Invenção, termos que soam bem melhor aos ouvidos destes cineastas, que em sua maioria continuaram a realizar filmes admiráveis, mesmo após os tempos sombrios da ditadura. No entanto, o assim chamado Cinema Marginal é inegavelmente um marco histórico do cinema nacional e merece ser recuperado e revisitado, levando em conta as críticas que se fazem a essa definição.

Depois de um breve recesso durante o mês de agosto, a Cinemateca Brasileira, em parceria com a Heco Produções, retoma em setembro a ampla retrospectiva deste assim chamado CINEMA MARGINAL BRASILEIRO, que se estende até o final do ano, sempre em sessões às sextas-feiras, às 21h00, com reprises aos domingos, às 17h00. Com curadoria de Eugênio Puppo, o ciclo busca oferecer a oportunidade de ver ou rever estes filmes de guerrilha, alguns feitos há mais de trinta anos, despertando o interesse sobre essa produção – fundamental, sobretudo num contexto como o de hoje, em que o chamado cinema de autor parece estar em extinção. Dentre os filmes programados agora para setembro, que incluem verdadeiros “clássicos marginais” como A mulher de todos e Matou a família e foi ao cinema, o grande destaque vai para o resgate de República da traição, longa-metragem de Carlos Ebert censurado pelo governo militar e nunca lançado comercialmente. Até hoje, o filme permanece inédito em São Paulo – o que faz desta uma oportunidade imperdível para conhecer um filme mítico do cinema brasileiro.

Veja a progamação:

04.09 | SEXTA

SALA CINEMATECA PETROBRAS

21h00 LACRIMOSA | MATOU A FAMÍLIA E FOI AO CINEMA

06.09 | DOMINGO

SALA CINEMATECA PETROBRAS

17h00 LACRIMOSA | MATOU A FAMÍLIA E FOI AO CINEMA

11.09 | SEXTA

SALA CINEMATECA PETROBRAS

21h00 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS | A MULHER DE TODOS

13.09 | DOMINGO

SALA CINEMATECA PETROBRAS

17h00 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS | A MULHER DE TODOS

18.09 | SEXTA

SALA CINEMATECA PETROBRAS

21h00 CU DA MÃE | CAVEIRA MY FRIEND

20.09 | DOMINGO

SALA CINEMATECA PETROBRAS

17h00 CU DA MÃE | CAVEIRA MY FRIEND

25.09 | SEXTA

SALA CINEMATECA PETROBRAS

21h00 O GURU E OS GURIS | REPÚBLICA DA TRAIÇÃO

27.09 | DOMINGO

SALA CINEMATECA PETROBRAS

17h00 O GURU E OS GURIS | REPÚBLICA DA TRAIÇÃO

FICHAS TÉCNICAS E SINOPSES

Caveira my friend, de Alvaro Guimarães

Rio de Janeiro, 1970, 16mm, pb, 86’

Nonato Freire, Baby Consuelo, Sônia Dias, Manoel Costa

Integrante do Underground (ou Udigrúdi) baiano da segunda metade dos anos 60, da quel também faz parte o longa Meteorango Kid – O herói intergalático, Caveira my friend caracteriza-se pelo rompimento dos postulados cinemanovistas em favor de um cinema livre de amarras ideológicas, propondo a iconoclastia e o desbunde como formas de contestação. A proposta está explícita na estrutura narrativa, desarticulada dos cânones tradicionais do desenvolvimento do discurso fílmico. Uma tênue fábula (a ação de um grupo de assaltantes) se estilhaça em planos contemplativos, nos quais a falta de perspectiva e o desânimo parecem ser as forças motrizes que regem o dínamo estrutural da ação e da inação, sístole e diástole.

sex 18 21h00 | dom 20 17h00

Cu da mãe, de Sebastião de Souza

São Paulo, 1969, 35mm, pb, 8’ | Exibição em Betacam

Hélcio Monteiro Cremonese

O primeiro plano do filme nos apresenta uma bunda nua, ornada somente com alguns confetes e duas fotografias 3X4, uma ao lado da outra. Outras imagens logo surgem, efusivamente, e delas sobressai a de um ânus que se contrai. Um filme radical e experimental que usa a escatologia para questionar a identificação cinematográfica.

sex 18 21h00 | dom 20 17h00

O guru e os guris, de Jairo Ferreira

São Paulo, 1972, 35mm, pb, 11’

Maurice Legeard, Herédia, Eduardo, Carlinhos, Kolhy

Um curta sobre a paixão pelos filmes e sobre o cineclubismo brasileiro, focalizando a figura de Maurice Legeard, um dos fundadores do Clube de Cinema de Santos, um dos mais antigos do país.

sex 25 21h00 | dom 27 17h00

Histórias em quadrinhos, de Rogério Sganzerla e Álvaro de Moya

São Paulo, 1969, 35mm, cor, 9’ | Exibição em Betacam

Momentos importantes das histórias em quadrinhos contados com recursos de sua própria linguagem. Uma espécie de ensaio de Sganzerla para o filme que faria em seguida, A mulher de todos.

sex 11 21h00 | dom 13 17h00

Lacrimosa, de Aloysio Raulino

São Paulo, 1970, 16mm, pb, 12’ | Exibição em Dvcam

Um mergulho em São Paulo a partir da inauguração de uma nova avenida na cidade – a Marginal Tietê –, filmado num único plano que percorre toda a via. Um mosaico das contradições básicas da cidade e uma introdução à problemática de uma megalópole do Terceiro Mundo, onde a opulência de uns contrasta com a pobreza absoluta de outros.

sex 04 21h00 | dom 06 17h00

Matou a família e foi ao cinema, de Júlio Bressane

Rio de Janeiro, 1969, 35 mm, pb, 80’

Márcia Rodrigues, Renata Sorrah, Antero de Oliveira, Vanda Lacerda

Obra essencial do cinema moderno brasileiro, que gravita entre o burlesco e o dramático, o clichê e o sublime, a vida social e o olhar lançado à intimidade dos personagens. A montagem dispersa as linhas narrativas ao longo do filme, “alienando” programaticamente as partes do conjunto, cujo diagnóstico geral é o trauma da ineficácia transformadora da arte (a matança da família precede a ida ao cinema; o disco estragado devolve a realidade ao espectador etc.).

sex 04 21h00 | dom 06 17h00

A mulher de todos, de Rogério Sganzerla

São Paulo, 1969, 35mm, pb, 80’

Helena Ignez, Jô Soares, Stênio Garcia, Paulo Villaça, Antonio Pitanga

As aventuras amorosas da vampiresca Ângela Carne e Osso, uma mulher insubmissa e irascível que faz dos homens gato e sapato, casada com um rico industrial dono de um “império” das histórias em quadrinhos. Depois de dispensar seu último amante e desistir de ir com ele para a Europa, ela parte para a Ilha dos Prazeres em busca de novas paixões. Segundo longa do diretor, o filme é uma homenagem à chanchada, à comédia pastelão e à linguagem das histórias em quadrinhos.

sex 11 21h00 | dom 13 17h00

República da traição, de Carlos Alberto Ebert

Rio de Janeiro, 1970, 35mm, cor, 90’

Vera Barreto Leite, Antonio Pedro, Zózimo Bulbul, Roberto Bonfim

Casal europeu chega à fictícia República do Maraguaya com uma estranha missão. Mas o envolvimento deles como um habitante do local, contratado como assistente, mudará seus planos. Um clássico “perdido” do Cinema Marginal Brasileiro, nunca lançado no circuito comercial e totalmente inédito em São Paulo.

sex 25 21h00 | dom 27 17h00

CINEMATECA BRASILEIRA
Largo Senador Raul Cardoso, 207
próximo ao Metrô Vila Mariana
Preço:R$ 8,00 (inteira) e R$ 4,00 (meia-entrada)
Outras informações: (11) 3512-6111 (ramal 215)
www.cinemateca.gov.br