COLEÇÃO PROGRAMADORA BRASIL CHEGA A 255 DVDs LICENCIADOS.
A partir desta quarta-feira, 14 de dezembro, 125 filmes e vídeos organizados em mais 41 DVDs passam a fazer parte do catálogo da Programadora Brasil. Desde 2007, a cada ano, o programa da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, realizado pela Cinemateca Brasileira através da Sociedade Amigos da Cinemateca, lança em discos um conjunto de filmes brasileiros licenciados para sessões sem fins lucrativos em pontos de exibição audiovisual associados à iniciativa. Os novos títulos e o catálogo completo podem ser vistos em www.programadorabrasil.org.br.
O catálogo alcança os 825 títulos que proporcionam um painel da cultura brasileira e possibilitam olhares singulares sobre um tema, uma situação ou uma personagem. A coleção divide-se em cerca de 250 documentários, 226 animações, pouco mais de 100 classificam-se como filmes experimentais e os demais 400 são obras de ficção. O crítico de cinema Carlos Alberto Mattos fez as contas: “Para assistir ao catálogo inteiro, um espectador precisaria dedicar 50 dias em jornadas integrais de oito horas, sem intervalos.”
Para Carlos Magalhães, diretor geral da Programadora Brasil, “o programa segue a orientação das políticas públicas de inclusão e regionalização da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, buscando a multiplicidade de realizadores, a diversificação de origens dos títulos, de épocas, bitolas e formatos (curtas, médias e longa-metragens). Também, com o intuito de proporcionar o maior acesso possível ao cidadão brasileiro, a Programadora vêm, há três anos, ofertando títulos que contemplam a acessibilidade, por meio dos recursos de closed caption e audiodescrição”. Neste lançamento, essas facilidades estão disponíveis em dez programas.
Os títulos lançados
Os programas (DVDs) são compostos de três modos distintos: um longa-metragem, um longa e um curta ou uma coletânea de curtas-metragens, organizados por relações temáticas, históricas ou pelo interesse para determinadas parcelas de público. Ao compor os programas, a curadoria induz a uma visão mais articulada e profunda desses filmes, que normalmente levam vida isolada no fluxo de mostras e exibições na TV.
Entre os programas de curta-metragens lançados nesta edição, destaca-se Discurso e intervenção (programa 251), que apresenta conflitos fundiários, condições aviltantes de trabalho, desastres ecológicos, colonialismo e até a estupefação do artista perante uma realidade que parece muito maior do que ele; Caravana Farkas: cultura e religiosidade popular (programa 245) onde os mitos, os fazeres, dizeres e cantares da gente nordestina ocupam a tela e inspiram considerações analíticas dos cineastas em cinco filmes com a participação do documentarista, produtor e fotógrafo Thomaz Farkas; e Cultura Negra (programa 248) mostra seis curtas-metragens produzidos entre 1975 e 2009 que, cada um à sua maneira, toca temas relacionados à cultura e à consciência negra.
Os infantis são campeões de audiência nos pontos de exibição associados e as animações ocupam um lugar especial no catálogo da Programadora, que neste lançamento traz o longa-metragem Garoto Cósmico, de Alê Abreu (programa 255), e diversas produções de curta-metragem disseminadas em vários programas. Outro filme recente, agora incorporado ao acervo, é O ano em que meus pais saíram de férias, de Cao Hamburger (programa 216), produção escolhida, à época, para representar o Brasil na corrida por uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
A era dos grandes estúdios mais uma vez marca presença. O pagador de promessas (programa 233) e Absolutamente certo (programa 215), de Anselmo Duarte fazem parte desse importante momento da nossa história, quando o cinema brasileiro investiu no projeto de industrialização segundo o modelo norte-americano e europeu. Nesta edição, os estúdios da Maristela, por sua vez, estão representados por Simão, o caolho, de Alberto Cavalcanti (Programa 237), comédia de grande sucesso realizada em 1952 e primeiro filme do diretor no Brasil.
Mais clássicos
Outros importantes clássicos estão sendo lançados, como O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla (programa 217), um dos filmes mais cultuados e influentes da história do cinema brasileiro. O filme lançou as bases do chamado Cinema Marginal, que se opunha ao Cinema Novo por substituir o corpo a corpo direto com a realidade pela relação com os signos, o simulacro, o escracho. O cinema paulista da década de 1980, marcado por uma forte elaboração estética da imagem e formas de construção narrativa pós-modernas, está representado pelo O olho mágico do amor, de Ícaro Martins e José Antonio Garcia (programa 232).
Estão ainda na lista: Todas as mulheres do mundo, de Domingos de Oliveira (programa 240), considerado um dos filmes mais marcantes e emblemáticos dos anos 1960 no Brasil e que tem no elenco Paulo José e a musa maior Leila Diniz; Os cafajestes, de Ruy Guerra (programa 221), que imortalizou as imagens de Jece Valadão como encarnação do “cafajeste” e Norma Bengell como símbolo sexual; Bonitinha, mas ordinária, de J. P. de Carvalho (programa 219), primeira das três adaptações ao cinema da genial peça de Nelson Rodrigues. O fértil cinema dos anos 1970, nutrido nas inovações da década anterior e amparado pelo estado através da Embrafilme, tem como destaque neste lançamento São Bernardo, de Leon Hirszman (programa 236), baseado no romance homônimo de Graciliano Ramos e um dos muitos títulos restaurados pela Cinemateca Brasileira.
Segundo Moema Müller, coordenadora de programação e produção da Programadora Brasil, “este acervo historiográfico do cinema brasileiro é uma vitrine que propicia um primeiro contato com a história do cinema feito no país, alarga o conhecimento sobre o cinema brasileiro e dá acesso a filmes com cópias, até então, inacessíveis ao público”. Assim, o programa procura cumprir a finalidade de promover o encontro do público com o cinema brasileiro. Uma ação para formar plateias e incentivar o pensamento crítico em torno da produção nacional, apoiando a formação de uma rede não comercial de exibição e estimulando os circuitos já existentes.
Maior número de circuitos não comerciais
Ao oferecer títulos da cinematografia brasileira numa mídia digital de baixo custo e de fácil armazenamento e transporte como o DVD, a Programadora Brasil dá a oportunidade para uma diversidade de coletivos e organizações constituírem acervos locais e tornarem-se pontos de exibição audiovisual. Caio Cesaro, coordenador de comunicação e circuitos do programa, explica que “o acesso aos filmes e vídeos brasileiros, licenciados para exibição pública, permite a esses espaços a aquisição de conteúdo para seus espectadores; com isso, reinventam o espaço sala de cinema e vencem desafios e limitações para levar o cinema brasileiro ao público”. Salas de aula e de treinamento, pátios, auditórios, galpões e até mesmo barcos estão sendo adaptados para as sessões.
Em mais de 830 municípios de todos os Estados do país, grupos de cinéfilos, prefeituras e suas secretarias, escolas e universidades, organizações sociais e muitos outros coletivos organizam periodicamente sessões de cinema a partir dos filmes do catálogo da Programadora Brasil. Somente este ano, cerca de 170 novos municípios passaram a contar com associados do programa. O público total, registrado pelos associados, aproxima-se de meio milhão de pessoas, em mais de 13 mil exibições. O dado mais relevante é que, apenas em 2011, já são cerca de 200 mil espectadores, com a região Nordeste apresentando o maior público, seguida pelo Sudeste.