CONFIRA A ENTREVISTA QUE O PLANETA TELA FEZ COM O DIRETOR DO FILME “ATO DE VIDA”.

Ato de Vida documenta o dia a dia de Susana Pacheco(foto), mulher que trabalha há anos com filmagens de parto, sendo a única a registrar estes momentos na cidade de Pelotas no Rio Grande do Sul.

O Planeta Tela fez algumas perguntas ao diretor Juan Zapata, confira:

PLANETA TELA: Como surgiu a proposta de fazer o documentário sobre o dia a dia de Susana Pacheco?

JUAN ZAPATA: Chegou sem avisar. Eu estava nas minhas férias em 2006, no meio de um churrasco, quando vejo chegar tarde na noite uma mulher radiante, feliz, e com uma câmara na mão.
Minha curiosidade foi maior e ao conversar com ela descobri que ela era a única pessoa que gravava partos em Pelotas, cidade que fica perto da fronteira no sul do pais.
Esta mulher era tão apaixonada pelo que fazia que não teve opção de não querer contar a sua historia. É um documentário que sem duvida surgiu de um jeito instintivo, intimo e muito emocional.

PT: Qual a intenção de se fazer um documentário como “Ato de Vida” ?

JZ: A simples intenção de compartilhar uma historia, um olhar, de abrir uma porta para universos que são tão próximos, mas aos quais não prestamos muita atenção, isso exploro nos meus filmes, sempre tem como característica principal às pessoas do cotidiano, pessoas que passam pelo nosso lado, mas que nunca paramos para pensar na historia que eles podem ter. Este documentário é completamente despretensioso e simples, que só tenta mostrar uma pessoa indo atrás de seu sonho. Batalhando como muitos cineastas independentes fazem, tentando mostrar em imagem sua visão do mundo.

PT: Qual a reação que você espera do público ao assistir o filme?

JZ: Em cada pais o público reage de forma diferente, o que tem sido constante é que as pessoas se emocionam, choram e se identificam com a persistência de Susana.
O único que espero é que sintam esse olhar diferente que o personagem transmite, cada espectador, na sua experiência de vida valoriza coisas diferentes. Só o fato de uma pessoa eleger um filme alternativo como este já supera qualquer expectativa minha.

PT: Na sua opinião, a câmera no momento do parto humaniza ou desvia a atenção do momento?

JZ: Um personagem no documentário fala “a câmara é um instrumento, o que faz o verdadeiro diferencial é quem esta atrás dessa câmara”. Falo isto para um filme de qualquer gênero, desde a captação de um nascimento ate m filme de ciência ficção. Susana consegue ter uma conexão, um respeito e um carinho com suas imagens que me resulta surpreendente, pois ela não tinha na época nenhuma capacitação técnica para operar bem uma câmara, ela sabia ligar e desligar só, mas conseguia e consegue construir uma narrativa que envolve as pessoas. Cria uma ligação que definitivamente humaniza e valoriza um momento tão mágico como é um parto.

PT: Já adultas, ou jovens, você acha que as crianças filmadas nos partos estarão interessadas em assistir ao seu próprio vídeo?

JZ: Não é possível generalizar, pelo menos durante a gravação constatei que sim, continua sendo uma escolha muito pessoal. No filme um dos meus momentos favoritos é quando um menino de três anos, com sua inocência, descreve como nasceu demonstrando não só ter visto varias vezes o seu próprio nascimento como também desfrutar de essa experiência.

PT: Os hospitais estão buscando cada vez mais meios de fazerem as famílias acompanharem os partos, na sua opinião, porque isso tem acontecido?

JZ: Depende da política do hospital, idealmente é uma forma de dar transparência ao trabalho feito internamente, em alguns países é tão normal isto, mas o que faz de especial esta historia é que ela era a única que tentava fazer isso neste lugar, sem muitas possibilidades, com muitas limitações e sem o apoio dos hospitais, existia uma atitude bastante conservadora quanto ao trabalho que ela queria realizar. Ela conquistou um espaço para isto. Quando iniciamos o documentário ela tinha feito só oito partos, hoje, supera os 150 e continua sendo a única a fazer este trabalho na sua cidade.

PT: Quais cinemas vão exibir “Ato de Vida” ?

JZ: A produtora desenvolveu um sistema de distribuição alternativo na América Latina, desse jeito lançamos nosso longa anterior (A DANÇA DA VIDA, 2008) e melhorarmos a estrutura para lançar ATO DE VIDA. A distribuição alternativa determina salas comercias e culturais de diferentes países, neste casso no Brasil estamos numa nova sala chamada Instituto NT de Cinema e Cultura (Porto Alegre), e em São Leopoldo. No final do mês estaremos em Pelotas. Lançamos simultaneamente em Colômbia (Medellín e em junho Bogotá e Barranquilla) e no Equador (Quito e Mantas). Estaremos em junho lançando também na Argentina (Oberá). Estamos explorando mercado e criando alternativas para que os filmes documentários tenham um circuito maior. Inicialmente criamos isto para os filmes que produzimos internamente, mas a partir deste ano estamos compartilhando esta experiência para outros filmes, já estamos preparando os próximos lançamentos, a idéia é ter maior intercambio com os países vizinhos e continuar desbravando novos mercados. O cinema documentário pode ser rentável e ter circuitos comerciais de exibição.