CONSTRANGIMENTOS POLITIQUEIROS E DIRA PAES MARCAM A ABERTURA DA 18ª. MOSTRA TIRADENTES.

Por Celso Sabadin, de Tiradentes.

A maior plataforma de lançamentos do novíssimo cinema brasileiro, orgulhosa (e com razão) por exibir o que de mais vanguardista, criativo e polêmico se faz no audiovisual do país, teve ontem a sua noite de jeca. A 18ª Mostra Tiradentes de Cinema realizou, com o Cine Tenda absolutamente lotado, uma cerimônia de abertura com sabor de Brasil velho.

Sim, claro que discursos políticos existem e até são podem ser necessários, mas convidar para subir ao palco, patrocinadores, assistentes de patrocinadores, assessores de patrocinadores (até um gerente de banco teve seus 15 segundos de fama), políticos, e assessores de políticos para receber um troféu de participação foi, no mínimo, constrangedor. Houve até um momento em que o ator Rodolfo Vaz, apresentador do evento, perguntou ao microfone, dirigindo-se à plateia: “Tem algum vereador presente aí?”. E tinha. E eles também subiram ao palco para serem homenageados.

Ninguém é ingênuo o suficiente para negar que os patrocinadores merecem destaque no espaço que patrocinam. Mas da forma como foi feito, tudo soou muito mais a uma humilhante vassalagem que propriamente a uma contrapartida profissional. Novamente o mundo da Cultura se ajoelha aos mundos do patrocinador e da política, colocando-se numa posição de eterna submissão aos seus suseranos. E onde patrocinador e política dominam, não há criação; exatamente o oposto da filosofia desta Mostra. Até se espera este tipo de cerimônia de abertura de outros festivais, mais sintonizados com questões políticas, mas não de um evento que tanto prega a liberdade criativa acima de tudo, como Tiradentes.

Terminados os salamaleques, finalmente um pouco de cinema: uma acertadíssima e bem-vinda homenagem aos 30 anos de carreira de Dira Paes. E que carreira! Nada menos que 37 longas e 3 curtas em três décadas de profissionalismo. Ainda que o grande público a conheça da televisão, Dira é uma atriz eminentemente de raízes e formação cinematográfica, já tendo atuado tanto em grandes sucessos de bilheteria como em produções independentes de pouca ou nenhuma circulação. E sempre esbanjando talento nos mais diferentes papeis. Homenagem mais que merecida. Só pegou mal o “gostosaaaa” que o apresentador da Mostra desferiu ao microfone, quando Dira subia ao palco, acompanhada de Inácio, seu filho, de parte da família, e da equipe do filme “Órfãos do Eldorado”, que foi apresentado a seguir. Foi o momento peão-de-obra da noite. Com todo respeito aos peões, claro!

Exibido aqui em pré-estreia nacional, “Órfãos do Eldorado” é uma adaptação do livro homônimo de Milton Hatoum, e fala do sofrido regresso ao lar de Arminto (Daniel de Oliveira), que vive uma conflituosa relação com seu pai, um antigo barão da borracha do estado do Pará. O filme, o 37º longa da carreira de Dira Paes, marca a estreia na direção de Guilherme Coelho.

A 18ª Mostra de Tiradentes prossegue até o próximo sábado, certamente agora mais focada no seu objetivo principal, que é o Cinema.

Celso Sabadin viajou a Tiradentes a convite da organização do evento.