CURITIBA DEBATE A CRÍTICA DIGITAL: “ESTAMOS FALANDO A MESMA COISA HÁ CINCO ANOS”, DIZ CRÍTICO.

“Nos últimos 15 anos, participei de uns 10 debates como este”. As palavras do crítico e pesquisador Luiz Carlos de Oliveira Júnior sinalizam o grau de dificuldade de se discutir a Crítica Cinematográfica Digital, tema abordado nesta segunda-feira (15/06) no Seminário de Cinema de Curitiba, dentro da programação do Olhar de Cinema – Festival’ Internacional de Curitiba.

 

Segundo Oliveira, “a crítica vinda da internet rompeu uma série de armaduras, como o estrangulamento do espaço, o rebaixamento do teto do grau de aprofundamento e da densidade da discussão dos filmes, e o rebaixamento dos voos dos grandes textos críticos. A internet reinventou um espaço crítico que estava exaurido, pudemos escrever textos enormes de filmes que nem estavam em cartaz, nos livramos das efemérides, e mergulhamos nos cineastas com olhares renovados. Foi um desbravamento”. Mas adverte: “Isso tudo entre 1998 e 2008. Nos últimos anos, porém, estamos tentando e não estamos conseguindo entender o papel do crítico, e estamos falando mais ou menos a mesma coisa há cinco anos”, diz Oliveira.

 

Filipe Furtado, crítico que mediou o debate, completa: “A internet cumpriu uma função muito importante de dar espaço a um tipo de crítica de cinema que não existia mais nos anos 90 e 2000, abrindo caminho para muita gente”.

 

Já Rodolfo Strancki, que escreve na revista eletrônica “A Escotilha”, faz a própria autocrítica: “Não sei se me considero um crítico de cinema”, e lamenta o fato da crítica atual apenas “reproduzir a lógica de mercado ao exibir uma formatação muito mais de resenha que propriamente de  crítica, muito mais preocupada com aspectos de produção que com a imagem e o olhar estético”. E dispara: “A crítica jornalística na verdade não é crítica. O consumidor de internet está dentro da lógica do cinema comercial. Quem vai às cabines de imprensa não está preocupado com a formação do olhar, pois o círculo vicioso de produção e consumo cinematográfico pode gerar um círculo vicioso de crítica cinematográfica. Talvez eu me enquadre nesta categoria de resenhista”, conclui.

 

Oliveira por sua vez lembra que “se pegarmos como exemplo a geração da Revista Cinética, hoje todos em torno de 35 a 40 anos, verificamos que pouquíssimos estão atualmente atuando na crítica, dando continuidade a um trabalho cotidiano. Há muitas revistas de internet formada por jovens, mas as três grandes referências na mídia online hoje já estão na terceira idade: Inácio Araújo, Jean-Claude Bernardet e Eduardo Escorel”.

 

O representante internacional da Mesa, francês Ariel Schweitzer, esclarece que o veículo que ele trabalha, a prestigiada Cahiers du Cinema, não tem e nem terá versão online. Schweitzer cita o texto “Camera Stilo”, escrito pelo crítico de cinema francês Alexandre Astruc em 1948. No artigo, Astruc diz que a câmera 16 mm, novidade na época, criaria um novo estilo de cinema, libertando o cineasta da dependência econômica, e lhe permitindo a utilização da câmera como uma caneta, de forma completamente independente, como um escritor usa sua caneta. A comparação, de acordo com Schweitzer, tem relação com a mídia digital, onde todos podem ser críticos de cinema.

 

“O Cahiers tem uma espécie de medo de se confrontar com esta democratização. Temos medo de perder a autoridade, temos medo de ser confrontados, mas admito que para mim tudo isso é um grande desafio”, conclui.