CURTA 8: O HISTÓRICO E O TRANSGRESSOR SE ENCONTRAM EM CURITIBA.

Por Celso Sabadin, de Curitiba.

Em plena ansiedade imediatista que rege o eufórico mundo digital, ainda existe espaço e entusiasmo para a antiga (digamos, clássica) bitola Super-8. Prova disso foi a abertura, na noite desta quinta-feira (09/10) da décima terceira – isso mesmo, décima terceira! – edição do Festival Internacional de Cinema em Super 8 de Curitiba, também conhecida como Curta 8.

Sala da Caixa Cultural totalmente lotada. Ingressos esgotados. Um revigorante clima de agitação artística tomando conta da plateia e dos realizadores. E o delicioso e inesquecível som do projetor Super-8 fazendo as vezes de uma nostálgica trilha sonora de fundo a embalar várias gerações de cineastas.

Na tela, espaço aberto tanto para o histórico como para o contemporâneo. A primeira sessão foi totalmente dedicada  aos filme de Hugo Mengarelli, cineasta argentino radicado em Curitiba desde 1976, professor que influenciou vários alunos de cinema e de teatro na capital paranaense. Foram exibidos seus curtas “O Mágico” e “O Besouro” – ambos dos anos 70 – além de um divertido making of da época. “Eu mesmo não via estes filmes desde a época em que eles foram feitos”, afirmou Mengarelli ao receber como homenagem o Troféu Leandro Bossy Schip, criado ano passado como lembrança e homenagem à memória do idealizador do Curta 8, prematuramente falecido.

Na segunda sessão da noite, o Super-8 mostrou todo seu potencial. Tanto através de curtas rodados nesta bitola e finalizados digitalmente, como por meio de filmes produzidos e finalizados em Super-8, o que se viu foi uma exibição de gala de um elemento que anda em falta no mundo cinematográfico: ousadia. Perfeito para experimentações, o Super-8 provou, aqui em Curitiba, que ainda existe um extenso campo laboratorial para realizadores dispostos a transgredir, criar, experimentar, quebrar paradigmas e – corajosamente – dar as costas para as cansativas imposições do mercado para priorizar novos caminhos audiovisuais. O resultado é um frescor criativo que vem sacudir a poeira das fórmulas desgastadas e apontar caminhos a serem desbravados por quem quer fazer cinema.

Com destaque para os participantes das chamadas “Mostras de Filmes em Tomada Única”, um exercício criativo no qual o realizador filma com toda a liberdade um único cartucho de Super-8 (duração de 3 minutos), entrega este cartucho fechado para a produção da Mostra (lembrando que Super-8 precisa ser revelado, lembra?), e só verá o resultado final de seu curta junto com a plateia, durante o Festival. Juntos, tanto público quanto realizadores assistirão aos filmes pela primeira vez na tela grande e com a trilha executada ao vivo durante a projeção. Emoção pouca é bobagem.

Não deixa de ser deliciosamente irônico: a bitola tido como “antiga” é exatamente a que vem sacudir as estruturas do conformismo para tirar o audiovisual de sua zona de conforto.

O Festival 

Criado em 2005, o Festival Internacional de Cinema em Super 8 de Curitiba cresceu rapidamente impulsionado pela paixão que ainda permanece pelo filme analógico. Ao longo dos anos o Curta 8 conseguiu parcerias fora do país, até se consolidar como evento mundial do gênero em 2008, com o patrocínio da CAIXA. Atualmente em sua décima terceira edição, o evento é uma das maiores iniciativas já realizadas no Brasil, e um dos poucos festivais dedicados ao culto da bitola Super 8 nas Américas.

O Curta 8 é coordenado por Antonio Carlos Domingues, tendo curadoria de Fábio Allon nas mostras competitivas. A produção é de Adriano Esturilho, da Processo Multiartes. A programação completa do evento estará disponível em www.curta8.com.br.

Celso Sabadin viajou a Curitiba a convite da organização do evento.