CURTAS BRASILEIROS E LONGA ARGENTINO ENCANTAM NO 20o. CINECEARÁ.

Ternura, lirismo e bom humor marcaram a noite desta terça-feira (29), dia de São João, na Mostra Competitiva de curtas e longas do 20º.Cine Ceará. A ternura veio por conta do curta paulista “Avós”, que o diretor uruguaio radicado em São Paulo Michael Wahrmann realizou – acredite se quiser – em Super 8.

Para as novas gerações, vale a explicação: há muito muito tempo atrás, numa galáxia distante, numa época em que Tweety era só o nome do passarinho que atormentava o gato Frajola, existia uma forma caseira de se fazer cinema chamada Super 8. Estávamos num tempo em que era preciso mandar o filme para revelar, e somente dias depois se via o resultado. Falando assim é difícil acreditar, mas é verdade.

Pois bem, Wahrmann resgatou todo o romantismo do antigo Super 8 para realizar seu simpático curta, que mostra um garoto que no dia de seu aniversário ganha três presentes: cuecas de uma das avós, meias de outra, e uma câmera Super 8 do vovô legal. Fascinado pelo presente, o menino sai registrando o universo nostálgico dos avós com quem convive. Vale dizer que, embora captado em, Super 8, a exibição foi em digital, com ótimos resultados de som e imagem. Já exibido no Festival de Berlim deste ano, “Avós” prova que o Super 8 resiste.

O lirismo veio da animação – também paulista, mais precisamente de São Carlos – “Um Lugar Comum”, de Jonas Brandão. Em menos de 10 minutos, o cineasta traça uma poética alegoria sobre o ciclo infinito da vida, e de como ela nos proporciona alegrias e frustrações de forma tão rápida e inapelável. Tudo sob um único ponto de vista, digamos assim, “sem tirar acâmera do lugar”, expressão que vem entre aspas pois se trata de um desenho animado.

E o bom humor foi provido pela já bastante premiada comédia gaúcha “Amigos Bizarros do Ricardinho”, de Augusto Canani. O filme conta a história real de Ricardo Lilja (interpretado por ele mesmo), jovem que trabalha como arte finalista de uma agência de propaganda, mas que demonstra um incrível talento para contar histórias inacreditáveis de seus amigos e parentes igualmente bizarros. Misturando uma narração em off, a la Jorge Furtado, com uma narrativa (incluindo a trilha sonora)no estilo de Amèlie Poulain, o simpático filme sempre arranca gargalhadas pelos festivais por onde passa. E aqui não foi diferente.

Argentina encanta… outra vez.

O longa concorrente da noite de ontem foi “O Último Verão de La Boyita”, filme argentino realizado em coprodução com França e Espanha. E assim como tem feito no futebol e no cinema, los hermanos encantaram novamente. A roteirista e diretora Julia Solomonff repete com competência a receita de simplicidade + sensibilidade que tem marcado o bom cinema argentino recente.

A trama fala de Jorgelina, uma menina que se vê obrigada a conviver com os ciúmes que sente por Luciana, sua irmã mais velha. Motivo: já “mocinha”, Luciana agora tem outros interesses e não brinca mais com sua irmã “criança”. Neste processo de crescimento, Jorgelina prefere passar as férias com o pai, numa fazenda, a aturar a presença da mãe e da irmã, que foram passar a temporada na praia. É nesta fazenda que Jorgelina começa a desenvolver uma forte amizade com Mário, filho do caseiro, rapaz introspectivo que mantem um inconfessável segredo.

“O Último Verão de La Boyita” segue a tradição que tem marcado o sucesso do cinema argentino: uma história bem contada, roteiro humanista, planos bem elaborados, interpretações marcantes, e uma dose de intimismo com ênfase para a sensibilidade acima de tudo, sem pretensões. Tudo de forma econômica e emotiva. Tem funcionado. Mantendo pontos em comum com o também argentino “XXY”, o filme tocou a plateia presente no CineCeará.

Celso Sabadin viajou ao Cine Ceará a convite da organização do evento.