DIRETOR DE “PANAIR DO BRASIL” CONVERSA COM O PLANETA TELA.

Estréia nesta sexta-feira (07) em São Paulo e Rio de Janeiro o documentário “Panair do Brasil”, dirigido por Marco Altberg. Narrado por Paulo Betti e com preciosas imagens da época, o filme resgata a história da Panair, empresa pioneira na aviação comercial brasileira, símbolo de modernidade e eficiência, e que foi decretada “falida” pelas forças da ditadura militar, mesmo sendo lucrativa.

O filme traz depoimentos de Milton Nascimento, Arthur da Távola, dos herdeiros das famílias donas da empresa – Rocha Miranda e Simonsen – da atriz Norma Bengel, dos Comandantes, das comissárias, funcionários e clientes da empresa.

O diretor, Marco Altberg, conversou com Celso Sabadin, editor do site Planeta Tela:

Para toda uma geração, “Panair” é apenas uma música do Milton Nascimento. Como surgiu a idéia de levantar este tema?
Altberg – Na verdade foi o tema que me pegou, da seguinte maneira: um dia, em 1997 um amigo levou na minha produtora uma moça (Maiza) que queria fazer um filme sobre a Panair do Brasil. Ela era neta do principal acionista da empresa, Celso da Rocha Miranda. Bom, a gente acabou se casando, tivemos três filhos e só depois de muitos anos o filme ficou pronto. Me interessei pelo tema e aprendi muito nesse processo. Eu também pouco conhecia dessa incrível história de injustiça.

O filme traz imagens preciosas da época. Como foi a pesquisa?
Altberg – Então, a Maiza já tinha participado da edição de um livro de arte sobre a Panair, onde havia sido realizada uma extensa pesquisa envolvendo documentos, fotos, textos. A partir dessa pesquisa ampliamos ainda mais a busca de imagens para o filme, que por sinal foi realizada pelas mesmas pesquisadoras – Marcia Ismério e Nair Palhano.
Ao longo desses anos fomos registrando depoimentos em vídeo que serviram de pesquisa e muitos deles foram utilizados no filme. Algumas das pessoas entrevistadas vieram a falecer antes do filme ter ficado pronto. Muitas das imagens já eram conhecidas da pesquisa para o livro e outras foram encontradas no processo de realização do filme.

No filme fica claro que a empresa foi prejudicada pela ditadura militar da época, mas não conta exatamente os motivos pelos quais isto aconteceu. Você poderia especificar mais?
Altberg – Optamos por não intervir em nada além do que os depoimentos indicam. A narração em off (na voz de Paulo Betti) é pontual e informativa, à exceção da interpretação da crônica do Drummond para o JB – “Leilão do Ar”.
Acho que o filme indica claramente através da edição dos depoimentos as circunstancias do fechamento da Panair pelo regime militar.
Se você perguntar qual a motivação por trás dessa perseguição eu diria que a Panair representava o poder civil que não apoiou o golpe militar que deu origem a ditadura a partir de 64. Mais que isso, os acionistas majoritários da empresa – Celso da Rocha Miranda e Wallace Simonsem – eram, respectivamente, ligados ao Juscelino Kubitschek e ao Jango e havia a possibilidade do JK se candidatar em 65, antes dos Atos Institucionais.
Isso tudo associado às relações da Varig com o então Ministro da Aeronáutica, Brigadeiro Eduardo Gomes. Com a ordem constitucional suspensa no país, o caminho ficou livre para a perseguição a esses empresários. Perseguição que, por sinal não se limitou à Panair, mas às outras empresas do grupo.

E toda esta trajetória acabou agora indo parar no cinema…
Altberg – Na verdade esse filme foi concebido originalmente para TV, porém devido ao interesse que o tema suscita, ele foi selecionado para o Festival do Rio do ano passado e a distribuidora de filmes brasileiros Downtown se interessou em distribuir o documentário no circuito digital.

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MARCO ALTBERG é carioca, 54 anos e começou a trabalhar em cinema aos 16 anos como assistente de direção de diretores do Cinema Novo e realizando filmes experimentais em 16mm. Foi montador, roteirista, continuísta, diretor de produção e produtor executivo em vários filmes, antes de realizar seus primeiros longas-metragens, “Prova de Fogo” (1980) e “Aventuras de um Paraíba” 1982). Em 1986 produziu e dirigiu “Fonte da Saudade”, inspirado na obra de Trilogia do Assombro, de Helena Jobim, com trilha sonora de Tom Jobim, prêmio de música e de som no Festival de Gramado e de direção e de roteiro no Festival de Brasília. Seu quarto longa-metragem, “Sombras de Julho” (1994), foi produzido em parceria com a TV Cultura de São Paulo, e antes de ser exibido nas salas de cinema, virou minissérie. Nos últimos anos vem trabalhando como diretor e produtor independente de TV, mantendo programas regulares e especiais nas TVs Públicas e TVs a cabo com conteúdo voltado para a Cultura, Meio Ambiente e Povos Tradicionais, entre eles a série de programas semanais “Revista do Cinema Brasileiro”, há doze anos no ar na TVE e há 9 no Canal Brasil.